Uma produção Teatro Nacional D. Maria II/Artistas Unidos
Estreia a 5 de Março no Teatro Nacional D. Maria II
Esta Noite Improvisa-se
Com Seis Personagens à Procura de Autor (1921) e Ciascuno a suo modo (1924) , Esta Noite Improvisa-se (1930) conclui a trilogia do "teatro no teatro" de Pirandello, que, instalando a dúvida no cerne do discurso, revolucionou para sempre o modo de representação no palco.
Aqui parte-se de um encenador que, perante os espectadores de uma estreia, propõe aos seus actores uma improvisação a partir de uma pequena novela de Pirandello, Leonora, Addio! Será esse o ponto de partida de um labirinto barroco de dúvidas, incertezas, sentimentos opostos, contradições, lutas, discussões, insultos, explosões irracionais, um carrossel da vida. Tudo a partir do sufocante dia-a-dia de uma vila de província, onde os sonhos são reprimidos e a sexualidade explode - e com ela o ciúme, “e o mais terrível de todos: o ciúme do passado”.
Mas o que é Esta Noite Improvisa-se, peça onde já se viu uma dilacerante meditação sobre a importância crescente do encenador, critica que seria feita a Max Reinhardt quando ele dirigiu em Berlim as Seis Personagens? Ou uma inquietante meditação sobre a dúvida, a incerteza, o boato, a aparência? Pois que acontece quando a vida faz rebentar as paredes da forma, quando o teatro começa depois do texto escrito pelo Autor? Se a única verdade da vida é a inesperada aparição da Morte (a de Mommina, aqui; como o suicídio do menino em Seis Personagens), que faz disso o teatro?
Estamos aqui na triste história da família La Croce, família pequeno-burguesa de uma cidadezinha de província, com a sua mãe casamenteira, filhas casadoiras, resignado pai que se entrega a delírios extra-conjugais, rapazes de arribação. E a vida que se fecha para a mais abnegada das quatro filhas da família La Croce, essa Mommina que sonhava vir a cantar Verdi nos grandes teatros e acaba fechada em casa, na tremenda teia de ciúmes que sobre ela foi construindo o marido, o tenebroso Rico Verri?
E a vida, o que foi, a não ser um sonho, dirá Pirandello, um sonho de teatro?
Toda a obra se desenvolve numa despudorada relação entre os espectadores e os actores. Discussões sobre encenação, dúvidas dos intérpretes, escolhas do director, tudo isto se desenrola diante dos espectadores, tal como as mudanças de cena, efeitos de luz, numa espécie de girândola de efeitos que anuncia a ficção da realidade.
PIRANDELLO: a interminável especulação1. Uma noite, na estreia em Berlim das Seis Personagens na extraordinária encenação de Klaus Michael Grüber, disse-me Titina Maselli, que fizera o cenário (e, da família Portulano, era sobrinha do Autor): “Pirandello era um homem da província, um siciliano, daqueles que gostam de estar sentados a especular sobre os vizinhos, dando ouvidos a rumores, boatos, calúnias, versões diferentes, mais interessado em efabular a partir de indícios do que em fixar a realidade, era o contrário do detective, não procura a verdade, entretêm-se com o fogo de artifício das aparências”. Talvez tenha sido esta conversa à porta da Freie Volksbühne no já tão distante ano de 1980, que me tenha feito (há tantos anos) tentar fazer as peças de Pirandello, sobretudo as assim chamadas do “teatro dentro do teatro”, o Esta Noite Improvisa-se e as Seis Personagens.
2. Como passaria hoje Pirandello diante dos quiosques de revistas, onde realidade e ficção se misturam sem fronteiras, como veria ele hoje esta omnipresença dos media onde deixamos de saber se a gravidez da actriz é a da personagem, onde não sabemos distinguir o marido do amante do companheiro de profissão, o que diria ele daqueles concursos de espiolhagem da “vida real” com que há anos as nossas noites se obscurecem, nesta aceleração de informações que logo se somem no esquecimento? “Como tu me queiras” diz uma das personagens mais célebres de Pirandello, efabulador intranquilo.
3. Voltar a Pirandello hoje é voltar a questionar os limites da ficção e as suas possibilidades. Agora que parece ter voltado a instalar-se a “peça bem feita” da tradição anglo-saxónica, agora em que há ficções que vendem a “explicação” do real, é importante voltarmos a ver os cacos, os fragmentos, a impossibilidade, os muitos escolhos em que tropeça a narrativa e a brecha sangrenta que Pirandello abriu no tal céu de papel, ferida por cicatrizar ( e Freud andava por lá, como por cá os heterónimos de Pessoa, rebentando identidades e consciências).
4. O que me interessa ao voltar a Pirandello é voltar ver o palco como o lugar da incerteza. Incerteza psicológica, narrativa, social, desequilíbrio sobre a qual se ergue a permanente, ininterrupta, imperiosa necessidade de voltar a contar histórias, de efabular, de especular.
5. Porque temos medo de estar sozinhos na noite, perante os cacos da vida, ou não é por isso que nos juntamos no teatro?
Jorge Silva Melo (Lisboa, Setembro de 2008)
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