4.48 PSICOSE de Sarah Kane
Tradução de Pedro Marques Com Gracinda Nave e Miguel Borges Encenação João Fiadeiro Assistência de encenação Pedro Marques Cenário e figurinos Rita Lopes Alves, Isabel Nogueira, José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Som André Pires
Estreia no Espaço A Capital/ Teatro Paulo Claro – 18 de Outubro de 2001
O TEATRO COMPLETO de Sarah Kane está publicado pela Campo das Letras
4.48 Psicose é um aglomerado de fragmentos que vão sendo esculpidos e justapostos: diálogos médico/doente, monólogos que registam a depressão, listas de remédios, de verbos, de números, explosões líricas. Todo o texto é uma tentativa de descobrir uma razão para fugir às 4 e 48: o suicídio, a hora da claridade. A hora da acção. A hora da decisão.
4.48 Psicose não é a carta de uma pessoa para outra pessoa mas sim uma peça, prevista para ser representada por pelo menos um e provavelmente mais actores. A mente, que é o sujeito dos fragmentos da peça, é a mente psicótica. Uma mente que é da autorae que é também mais que a da autora. É uma mente que, pela forma aberta da peça, deixa o público entrar e reconhecer-se lá dentro. A voz da peça entra na terapia e na infinita medicação, nenhuma delas consegue aliviar o sofrimento, fala com o médico usando uma inteligência sardónica. A comédia negra desta descrição de drogas prescritas e negligenciáveis efeitos secundários faz-me lembrar Lear na charneca exigindo o impossível do seu farmacêutico: “adoça a minha imaginação.”
David Greig
O texto, que tem uma explícita construção poética, “queima” na síntese lírica uma procura existencial complexa e dolorosa e radiografa um progressivo alheamento do mundo, marcado por afirmações categóricas de emoções e por catálogos de psicofármacos, que dão o ritmo a uma descida ao abismo da loucura e à rejeição progressiva do próprio conceito de cura, num isolamento terrível (.).
Luca Scarlini
“Um texto que faz mover as palavras entre a vida e a morte. Um encenador que encontrou esse movimento. E dois actores que são o corpo do que estão a dizer. (.) Só vi uma fotografia de Sarah Kane, meio desfocada, de que já não me lembro bem. Depois de 4.48 vejo-a assim, como Gracinda Nave, de vestido branco, quase incorpórea, falando como se já não estivesse aqui. E não consigo ver outra actriz a dizer aquelas palavras. Também é isso o teatro.”
Alexandra Lucas Coelho. Público