À ESPERA DE GODOT de Samuel Beckett

À Espera de Godot

À ESPERA DE GODOT de Samuel Beckett
Tradução
José Maria Vieira Mendes Com Miguel Borges, Luís Elgris, Cláudio da Silva, João Garcia Miguel e Guilherme Duarte Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves, Isabel Nogueira e Ana Paula Rocha com a colaboração de José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Encenação João Fiadeiro assistido por Jorge Cruz e Marie Mignot
Uma produção Re.Al / Artistas Unidos

Estreia Espaço A Capital/ Teatro Paulo Claro 18 de Maio de 2000

O texto está publicado nas Edições Cotovia

“POZZO: Pensavam que eu era o Godot.
ESTRAGON: Não senhor, nunca nos passou pela cabeça
POZZO: Quem é que ele é?
VLADIMIR: Bom, é um… é uma espécie de conhecido.
ESTRAGON: Não é nada, mal o conhecemos.
VLADIMIR: Claro… não o conhecemos lá muito bem… mas de qualquer das formas…
ESTRAGON: Eu se o visse nem sequer o reconhecia”
Samuel Beckett,
À Espera de Godot

Viver o nada como se de tudo tratasse…

Após cinco anos de uma estreita colaboração nas produções dos Artistas Unidos, a possibilidade de encenar Beckett acontece de uma forma bastante natural. Não é a primeira vez que um “frente a frente” com a palavra se proporciona e por duas vezes esse encontro esteve eminente: a primeira com Bartleby de Herman Melville e a segunda com uma adaptação do Jorge Silva Melo ao poema de Virgílio A Eneida. Por diversas razões essas possibilidades não se consumaram mas à terceira é de vez e aqui estou eu para me confrontar, compreender e aprender com este “mestre do vazio” que é Samuel Beckett. À Espera de Godot é uma história sobre “dois gajos que estão à espera de outro que nunca mais chega”. É assim que Gregory Mosher, um importante encenador Beckettiano, resume Godot. E continua, dizendo que “o que faz de Beckett tão poderoso é exactamente a sua habilidade para condensar a experiência de um século apocalíptico dentro de uma história simples. Ele comprime o universo num átomo, que depois explode na nossa imaginação”. Em À Espera de Godot espera-se por nada e esse nada, é o que de facto existe. O resto, o tudo, são as palavras, as coisas e as pessoas para as quais (e de quais) elas falam. E essas são o que são. Estão lá e existem por si só. Servem para realçar o contrário. Servem para dar sentido ao medo que sentimos quando não sentimos o sentido das coisas. Servem para nos lembrar de que entre elas (e entre elas e as coisas) existe esse enorme e poderoso vazio, cheio de tudo e de nada, que desconhecemos e imaginamos, que antecipamos e receamos e que, inútil e insistentemente, procuramos compreender.”
João Fiadeiro