A FESTA de Spiro Scimone

A Festa

A FESTA de Spiro Scimone
Tradução: Jorge Silva Melo  Com Miguel Borges, Américo Silva e Pedro Carraca  Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves Assistente de cenografia Thomas Kahrel Montagem José Manuel Reis e Luís Dias Luz Pedro Domingos  Som André Pires
Uma produção TÁ SAFO/Citemor/Artistas Unidos
Apoio da Casa do Povo da Glória do Ribatejo

Estreia Teatro Taborda a 11 de Setembro de 2003

O texto, juntamente com NUNZIO e CAFÉ, está publicado nos LIVRINHOS DE TEATRO, Volume 1 dos Artistas Unidos.

Sobre A FESTA
a_festa_b Estamos no meio de uma família, num quadro onde se desenham as nevroses e as angústias de três elementos totalmente incapazes de se ouvirem ou pelo menos de se compreenderem. Regressam, neste seu terceiro texto, muitos dos temas do teatro de Spiro Scimone, desde logo na linguagem, de uma importância específica (onde ecoa a língua de um Beckett por exemplo) nas contínuas repetições de frases e nos diálogos em que cada um só a si se ouve. Outro elemento importante é o ritmo. Scimone faz soar as palavras que transmitem as tensões emotivas das personagens daquela família, mas ao mesmo tempo desenha os silêncios e os ataques musicais, um ataque de repercussões sempre iguais como iguais são os dias da família. Também no mundo exterior, descrito com grande simplicidade pelas personagens, não há esperança nenhuma mas apenas situações de mesquinhez. A situação em que decorre o espectáculo é uma situação excepcional, sobretudo ao nível formal, é a comemoração do aniversário do casamento dos dois cônjuges, perante a indiferença do filho e do pai e os tímidos preparativos feitos pela mãe. Por um lado, temos um pai e um filho que não mudam, pelo outro uma mãe que actua nervosamente tentando agradar ao filho e ao marido oferecendo-lhes comida. Na mãe, interpretada pelo próprio Scimone, vê-se uma desilusão que ainda ecoa velhas recordações e sonhos nunca realizados. A mulher mantém a mesma posição, braços cruzados e rosto preocupado muitas vezes voltado para o chão, uma posição de fechamento e impotência perante o mundo que a rodeia; é apenas capaz de conhecer os objectos da sua vida em casa mas não consegue sequer ter uma relação humana activa nem sequer com os elementos da sua família. Não consegue ouvir, insiste nas mesmas perguntas mesmo que a resposta seja negativa (“Querem leite?” / “Não.” / “Mas querem açúcar?”). Exactamente como em À ESPERA DE GODOT de Beckett quando Estragon repete o mesmo sem cuidar no que pensa Vladimir, como se receasse que este o fizesse mudar. O filho é uma personagem inerte e sem vontade própria que se arrasta pela casa sem fazer nada. O pai é um falhado, cansado e nervoso.
São personagens que estão dentro de uma vitrina numa vida sempre igual sem tempo nem história.
Franco Quadri, La Republica, Maio de 1998

TÁ SAFO
Companhia fundada por Américo Silva e Miguel Borges em 2002. A FESTA é a sua primeira produção prolongando o trabalho realizado com o autor Spiro Scimone dentro dos Artistas Unidos (co-produtores minoritários do projecto). Interessada em desenvolver projectos contemporâneos, TÁ SAFO prepara para 2004 a produção de um texto inédito de José Maria Vieira Mendes a partir do contista nova-iorquino Damon Runyon.