HISTÓRIA DO ESCRIVÃO BARTLEBY de Francisco Luís Parreira
A partir da novela BARTLEBY O ESCRIVÃO de Herman Melville
Com Américo Silva, António Simão, Bruno Bravo, Francisco Luís Parreira, Rogério Vieira Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves, Isabel Nogueira, José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Encenação João Meireles
Estreia Espaço A Capital/ Teatro Paulo Claro, 8 de Novembro de 2001
O texto está publicado na Revista nº 7 dos Artistas Unidos.
Num dia de trabalho como os outros, o escrivão Bartleby ergue-se da secretária, coloca-se de pé a meio do gabinete e deixa de ter fome. Não fará doravante coisa enhuma. As exortações, os pedidos de esclarecimento do patrão têm como resposta única “Preferia não o fazer”.
A entrada do trabalho na literatura ocidental é tardia. Devemo-la a Charles Dickens ou à Revolução Industrial, e é um caminho não menos eficaz para chegar à tragédia. O homem é agora menos que ele mesmo e o tropo do trabalho expõe essa redução metafísica do homem ao orgão. Por isso, o novo homem Bartleby (.) anuncia-nos de Wall Street, sob a forma de eterno retorno, essa nova característica humana da impessoalidade. Não lhe é possível agora lançar-se na experiência trágica sem transformá-la em aberração. A menos que acreditemos que ele detém a chave da nossa perplexidade.
Francisco Luís Parreira
A natureza própria do limbo é a de Bartleby, a mais antitrágica das figuras de Melville (ainda que, aos olhos dos homens, nada pareça mais desolador que o seu destino) – e está aí a raíz, impossível de arrancar, daquele “preferia não”, contra o qual se desfaz, simultaneamente com a razão divina, toda a razão humana.
Giorgio Agamben, Ideia da Prosa