A NOITE CANTA OS SEUS CANTOS de Jon Fosse

A Noite Canta os Seus Cantos

A NOITE CANTA OS SEUS CANTOS de Jon Fosse
Tradução Pedro Porto Fernandes Com Joana Bárcia, António Simão, Isabel Muñoz Cardoso, António Évora e Américo Silva Cenografia e Luz Walter Lauterer Figurinos Rita Lopes Alves Som André Pires Encenação João Fiadeiro assistido por João Meireles, Teresa Sobral e Isabel Muñoz Cardoso
Uma produção Artistas Unidos/ Re.Al

Estreia Teatro Taborda, 26 de Fevereiro de 2004

O texto está publicado nos LIVRINHOS DE TEATRO, Volume 4 dos Artistas Unidos.

Na Antena 2 – 1ª transmissão a 1 de Dezembro de 2009 – no Espaço TEATRO SEM FIOS

Um casal com um bebé recém-nascido recebe a visita dos pais dele. Não ficam muito tempo, porque têm de apanhar o último autocarro. Ele lê deitado no sofá, olha pela janela, espera. Quer ser escritor, mas já recebeu mais de dez cartas de recusa. Ela vai às compras, sai com uma amiga, volta muito tarde: quer uma vida diferente e não aguenta ficar em casa. Quando ele lhe pergunta com quem passou a noite, ela mente e um pouco e mais tarde, quando já não tiver forças para mentir, dir-lhe-á aquilo que decidiu.

NATTA SYNG SINE SONGAR estreou a 6 de Setembro de 1997 no Rogaland Teater, em Stavanger, na Noruega, com encenação de Kai Johnsen. A peça foi entretanto apresentada na Suíça, Alemanha, França, Inglaterra e Itália e foi adaptada ao cinema por Romuald Karmakar, com o título DIE NACHT SINGT IHRE LIEDER (Festival de Berlim 2004).

a_noite_canta_bNas experiências que tive em teatro como responsável pelo “movimento” nos espectáculos dos Artistas Unidos de Jorge Silva Melo entre 1995 e 2000 e enquanto encenador de À ESPERA DE GODOT de Samuel Beckett (2000) e 4.48 PSICOSE de Sarah Kane (2001), apercebi-me da importância da figura do dramaturgo e da forma como a pré-existência de uma estrutura, ao contrário do que pensava, liberta e estimula a criatividade. A verdade é que sempre senti que a criação em dança, apoiada numa aparente liberdade de acção, pode tornar-se numa verdadeira armadilha. Até porque quando tudo é possível, o medo de nos perdermos leva-nos a procurar (ou a fabricar) o equilíbrio só pela necessidade de conforto ou a sensação de segurança que esse equilíbrio nos proporciona. É por isso que admiro o extraordinário trabalho dos dramaturgos de teatro que se matam para encontrar aquela pessoa ainda sem corpo, autónoma do autor, do actor e do leitor, que diz e faz umas coisas, ao mesmo tempo simples e complexas, banais e eruditas, concretas e ambíguas, e que produz as imagens com as quais me posso confrontar e dialogar. A responsabilidade da encenação será conseguir re-apresentar essas impressões e ambientes recorrendo a processos que produzam imaginários e vocabulários resistentes ao artifício da representação. A questão que coloco é saber se o real que deu origem à ficção irá sobreviver à representação. Esta nova experiência de encenação ajudar-me-á a responder a esta questão.
João Fiadeiro

Eu escrevo quase sem ponto de partida, sem imagem, sem plano, escrevo só. Vou escrevendo, variações. Há um momento em que tudo tem de se resolver. Se calhar é por isso que as coisas acontecem tão abruptamente no final das minhas peças.
Jon Fosse, Artistas Unidos – Revista, nº 4

[As minhas personagens nunca têm cara,] são vozes. Sou muito pouco visual. A não ser para as didascálias, que têm a ver com os movimentos dos corpos no espaço. Não escrevo personagens no sentido tradicional do termo. Escrevo partes do humano.
[…]
Constato depois que as peças dialogam entre si. O facto de ter terminado uma peça desencadeia a escrita da próxima, sem retomar por isso os elementos precedentes. Thomas Ostermeier teve a ideia de um espectáculo composto por O NOME seguido de A NOITE CANTA OS SEUS CANTOS. Acabou por não se fazer. Mas descobri nessa ocasião que havia efectivamente uma relação muito estreita entre estes dois textos, que vão aliás ser montados em conjunto em Praga.
Jon Fosse, Le Monde, 6 de Outubro de 2003