ALBERTO CARNEIRO

alberto_carneiro_ficha

Nasceu em 1937 no Coronado, um vale de prados e bosques, entre Douro e Minho, com uma actividade agrícola dominante. As coisas da terra foram os seus brinquedos de criança e essas vivências serão fulcrais para as suas criações plásticas futuras.

Aos dez anos de idade entrou para uma oficina de santeiro onde trabalhou até aos vinte e um anos. Ali praticou um ofício e viveu uma relação osmótica com as matérias da árvore e da montanha, aprendendo a transformá-las de dentro para fora.

A minha formação, as minhas convicções estão ligadas a todo o mundo da minha infância, no qual, pela imposição de condições peculiares, pobres e libertadoras da criatividade, tive que inventar quase tudo de que precisava ao nível da minha aprendizagem natural, a partir dos materiais da terra, construir o mundo nela, compreendê-la ludicamente por dentro e estruturar, assim, um esquema corporal que foi sendo, cada vez mais, a imagem das coisas da natureza, transformadoras da minha semelhança. Foi ainda determinante desses vínculos a minha aprendizagem na oficina de santeiro; dez anos de contacto directo com a matéria da árvore ou da montanha, que me permitiu um entendimento dos meios tecnológicos, pela osmose da pele, para um domínio natural dos materiais e a partir do qual eu pude chegar a formular a consciência de que tudo isso se agrega no meu trabalho como necessidade de comunicação estética, trânsito dialéctico entre mim e o mundo: arte.” *

Depois fez estudos de escultura na Escola de Belas Artes do Porto e na Saint Martin’s School of Art de Londres onde foram seus professores Anthony Caro e Phillip King.

Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian no Porto e em Londres.

Dedicou-se ao ensino, no Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, na Escola de Belas Artes do Porto e na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Sobre as matérias do seu ensino publicou textos e um livro.

Dedicou-se ao estudo da Psicologia Profunda, do Zen, do Tantra e do Tao para aprofundar as razões e os sentidos do seu corpo e da sua mente na criação da sua obra. Sobre estas matérias deu cursos e fez conferências e palestras e publicou textos e um livro em co-autoria. Expõe a sua obra desde 1963. Realizou setenta e nove exposições individuais em Portugal e no estrangeiro. Participou em mais de cem exposições colectivas no ocidente e no oriente. Recebeu vários prémios e condecorações.

O seu encontro, em 1965, com os livros de Gaston Bachelard sobre a poética da matéria foi fundamental para a consciência teórica sobre os seus processos de criação.

A sua primeira exposição individual, na Escola de Belas Artes do Porto, em 1967, com esculturas e desenhos realizados entre 1963 e 1967, foi motivo e objecto de uma reflexão profunda sobre os desenvolvimentos da sua obra. A partir deste momento começa um processo de auto reflexão sobre os arquétipos da sua realização artística. Toma consciência da sua relação formadora com as coisas da terra, iniciada na primeira infância e reconhece a sua identidade estética na fusão do corpo com a natureza.

A matéria e a minha vida com ela na formulação do meu próprio ser. A natureza sonha nos meus olhos desde a infância. Quantas vezes adormeci entre as ervas? A minha primeira casa foi em cima da cerejeira que hoje é uma escultura. Entre o meu corpo e a terra houve sempre uma identidade profunda. A floresta ou a montanha que eu trabalho num tronco de árvore ou num bloco de pedra fazem parte integrante do meu ser. O meu trabalho é uma apropriação totalizadora da matéria recriada a dois níveis: o da posse bruta através do furor existencial dos sentidos e o da posse mental pela necessidade de me reencontrar nas raízes de mim mesmo. Se a minha mão agarra um pedaço de terra, revejo nela a imensidade de mim: a ancestralidade e a futuridade.” *

A 12 de Dezembro de 1968, em Londres, teve uma anamnese intensa sobre uma vivência estética com a natureza, no vale de Coronado, quando criança, e criou O Canavial: memória-metamorfose de um corpo ausente. A partir deste momento estrutura a sua obra nas vivências do corpo com as matérias da terra, num aprofundamento das suas reminiscências estéticas com as coisas da natureza. Começa a trabalhar nos projectos que constituem O caderno preto e nas ideias expressas em “As notas para um manifesto de uma arte ecológica” publicados em 1971. Nas obras deste período, utiliza situações espaciais e materiais naturais articulados de modo a suscitar a percepção estética através de todos os sentidos do corpo. Algumas das suas obras são penetráveis, tornando-se o espectador também parte da obra.

A arte ecológica será um regresso à origem das nossas próprias fontes; a reabilitação das coisas mais simples no significar da comunicação estética; não através dum processo de ordem cultural, na aquisição de valores de carácter transitório, mas pela consciência das essencialidades, pela penetração no âmago dos átomos, pela chamada aos contactos com aquele mundo que se define em nós sem os constrangimentos da complexidade social: a relação consciente dos significantes na ordenação duma crítica profunda sobre os significados que virão, depois, como autenticidade de relações com o mundo.

A natureza recriada à nossa imagem e semelhança: nós dentro dela e ela polarizadora dos nossos sentimentos estéticos.

Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através duma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pelas qualidades do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.” *

Em 1968-69 realiza As três extensões da natureza, nas quais utiliza pela primeira vez a fotografia e materiais naturais.

Em 1969 participa na Bienal de Paris, realiza Os quatro elementos e cria as Distâncias para andar e meditar e O laranjal natureza envolvente.

Entre 1969 e 1971 trabalha sobre Um deserto entre dois oásis e Uma linha para os teus sentimentos estéticos.

Em 1970 cria Uma floresta para os teus sonhos, que mostra na Galeria Buchholz, Lisboa, e concebe Situação para uma totalidade do sensorial.

Em 1972 visita Moçambique e Angola.

Entre 1971 e 1975 trabalha sobre um conjunto de obras que têm como objecto a natureza nas quais releva os processos de relação estética recíproca da obra com o espectador, das quais se referem as Operações estéticas em Vilar do Paraíso e Caldas de Aregos, Esculturas rurais, Árvore escultura viva, 7 esculturas naturais e 21 janelas sobre a paisagem. Estes trabalhos têm uma feição marcadamente conceptual e processual.

Ernesto de Sousa publica na Colóquio Artes o ensaio “A arte ecológica e a reserva lírica de Alberto Carneiro”. Fevereiro de 1974.

Entre 1973 e 1976 trabalha sobre Um campo depois da colheita para deleite estético do nosso corpo, que mostra na retrospectiva da sua obra no Museu de Soares dos Reis do Porto. Este trabalho representará o artista na Bienal de São Paulo de 1977.

Participa na Bienal de Veneza de 1976 com Operação estética em Caldas de Aregos e Os sete rituais estéticos sobre um feixe de vimes na paisagem, obra onde se procuram as valências estéticas dos elementos e das matérias que constituem a essência artística. Faz a primeira viagem a Itália onde voltará muitas vezes.

Entre 1975 e 1976 faz investigação sobre as formas e procedimentos estéticos resultantes do amanho da terra no meio rural, percorrendo grande parte do território português. Desta investigação colige materiais que utilizará nos seus trabalhos de criação.

Entre 1976 e 1977 concebe e realiza o Trajecto de um corpo, que mostra na galeria Quadrum, Lisboa. Nesta obra são exploradas as reminiscências do corpo relativamente aos espaços e matérias da sua realização, num duplo percurso sobre a paisagem (do mar à montanha, passando pelo espaço da arte, a galeria) e pelo próprio corpo, que atravessa uma pedra rolada pelos movimentos do tempo.

Em 1977, no ciclo de exposições individuais Spoken Space da galeria Gaetan de Genebra, mostra Meditação e posse do espaço/paisagem como obra de arte e participa na Alternativa Zero, exposição organizada em Lisboa por Ernesto de Sousa. Viaja pelo Brasil onde recolhe documentação fotográfica sobre a natureza.

Entre 1978 e 1981 realiza um conjunto de obras sobre a fusão do próprio corpo com a natureza: osmose e metamorfose da matéria em obra de arte. O ribeiro, A floresta e Ainda o mar para além do labirinto. Ele mesmo/outro, Marcas do corpo apagadas pela maré, Arte corpo/Corpo arte e Corpo rio são identidades do corpo do artista sobre a natureza, na busca da essência do estético. Todas estas obras decorrem de explorações feitas sobre a paisagem natural, cobrindo quase todo o território nacional, particularmente as serras do Gerês e de Aire.

Afinal saí já pelo meu corpo. Corpo e mente. Unidades de corpo. Ela nele e ele por ela. Desenvolvimento para o cosmos. Sabedoria e conhecimento. Pela sabedoria o corpo é consciência de tudo na mutação de cada coisa. Pelo conhecimento ele age sobre o vertical e reafirma a acção sobre o horizontal. O vertical leva a conhecer as coisas como elas são, no entendimento e no sentido mais profundo da sua realização. O horizontal leva a conhecer tudo acerca de alguma coisa.

Pela meditação o corpo é. Por ela, ele não elabora, penetra, desvenda para além da consciência do que nele se perceba. Por ela, ele vive a sabedoria e o conhecimento nas três fases da revelação da obra. Apropriação, nominação e posse. Os três momentos da unidade. Apropriação, reflexo supremo de identificação pelo possuído. Nominação, entrega pelo entendimento da essência da coisa apropriada. Posse, descoberta do ser do artista pelo ser da obra e revelação da obra como ser.” *

Em 1981 expõe na galeria Unde de Turim o Trajecto de um corpo, Sinais e sabedoria da floresta e Sobre o meu corpo o rasto da serpente e em Bolonha Corpo rio. Durante os anos de 1980 e 81 concebe e realiza O corpo subtil obra que se desenvolve em torno das ideias e conceitos que alimentam as suas criações: a terra, a vida, o espaço, a água, a árvore, o labirinto, a arte, o corpo, o ar, a morte, tempo e o fogo e escreve sobre as oitenta e quatro pedras os aforismos da sua reflexão, tomando assim consciência das diferenças a explorar na sua obra futura.

Nele tudo se cria e se transforma como obra para ser possuída entre o dentro e o fora.

Ele fica sempre indiferente perante quem procure explicar o que o cerca e lhe veja somente as aparências.

Quem se procura na obra dele, pela vontade da vida, revigora-se no segredo da sua ausência e descobre-se como arte.” *

Entre 1982 e 1983 realiza uma escultura em madeira Memória de um corpo sobre a terra e catorze desenhos sobre pedra Os caminhos da floresta, sobre vivências do corpo com as matérias da natureza, reflectindo nos percursos sobre a terra pelas anamneses das mãos.

Pegar na montanha, na árvore, moldá-las em matéria arte e inscrever nela os gestos da memória do corpo sobre a terra todos os caminhos, todas as viagens, todas as mudanças, todos os saberes, todas as inquietações… Se imagino sobre as revelações das matérias da terra, logo me habitam miríades de sensações, as que me antecederam no nascimento, as que vivi desde o primeiro gesto, as que reflecti sobre os sentidos da vida e da existência e que tornaram formas de escultura… Evoco memórias das mutações de sucessivas vivências com a matéria, tempos de anamneses transformados agora em tempos de criação, como consciência de identidade da forma/acção do corpo. Um fruto, por exemplo, com o seu cheiro/sabor, com a sua macieza, a sua cor, a sua forma particular, plenitude de sensações e de pensamento sobre elas. Entendê-lo assim e, para além das articulações lógicas, encontrar a árvore já morta dos frutos naturais e transformá-la outra vez nos frutos da sua consubstanciação, como totalidade de sensações temporais do corpo olfactivo, gustativo, táctil, visual, auditivo, em todos os movimentos e elevações do corpo subtil.” *

Em 1983 viaja por Marrocos e visita o deserto.

Em 1984 viaja pela Jugoslávia, Bulgária, Turquia e Grécia.

Entre 1984 e 1990 realiza esculturas e desenhos e, no desenvolvimento de uma consciência sobre as relações do seu corpo com a natureza, explora anamneses de sensações com os elementos: a terra, a água, o ar e o fogo. Explora ainda os vazios entre as formas como a essencialidade das dinâmicas da espacialidade das obras e dos movimentos perceptivos do corpo, recorrendo quase sempre a uma matriz mandálica. Percursos na paisagem, Variações sobre um haikai de Bashô, 18 citações tiradas de Memória de um corpo sobre a terra, Tântrica, Ainda a Memória de um corpo sobre a terra, Corpo terra, Corpo água ou Mandala do fogo são disso exemplo.

O corpo (na unidade da sua realização: físico, mental e subtil) é a unidade de tudo, centro do universo do seu ser. É pelo seu centro que sempre saímos para a viagem no cosmos. O corpo é ele mesmo a mandala: estruturado como está para fazer a síntese de cada coisa e de tudo o ser pelo estar ausente e sempre presente, fragmentário e uno no seu caminhar e no seu devir. A mandala é a figura dessa síntese do corpo, lugar da realização do seu ser como cosmos…” *

Em 1985 é-lhe atribuído o Prémio Nacional de Artes Plásticas pela Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Em 1986 participa no Simpósio Internacional de Escultura Forma Viva, Kostanjevica, Eslovénia e realiza a escultura em madeira Árvore, flor e fruto. Viaja pela Jugoslávia, Áustria e Alemanha. Integra a exposição 11 Sculpteurs Européens, Europalia, Florença.

Em 1988 visita Nova Iorque e viaja pelos Estados Unidos. Visita Praga e Budapeste.

Em 1990 realiza duas esculturas para a cidade de Santo Tirso: Água sobre a terra, granito e água e O barco, a lua e a montanha, granito. Promove a realização dos Simpósios Internacionais de Escultura de Santo Tirso que, ao longo de vinte anos, formarão o Museu Internacional de Escultura Contemporânea desta cidade.

Em 1991 o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, e a Fundação de Serralves, Porto, organizam uma exposição antológica com obras de Alberto Carneiro de 1963 a 1990. Para o catálogo desta exposição Bernardo Pinto de Almeida escreveu o ensaio “Idade de homem”.

Entre 1991 e 92 realiza 35 esculturas que constituíram a instalação Evocações d’água mostrada na galeria Pedro Oliveira, Porto, em 1993. Esta instalação é sobre uma árvore (um buxo secular), sobre reminiscências de água e sobre os espaços entre as esculturas.

Em 1992 realiza para as Jornadas de Arte Contemporânea do Porto a instalação Uma arvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora e com o mesmo título publica as “Notas para um manifesto de cada espectador”. Utiliza uma grande árvore, uma tília, que tinha sido abatida num jardim da cidade, barro com marcas do próprio corpo e espelhos com fotografias de fragmentos de paisagens naturais onde cada qual se vê árvore e corpo.

A natureza reproduz-se pela sucessão transformadora de ciclos (os da vida e os da morte), em sequências de ritmos naturais, em articulações síncronas de espaço e de tempo. A natureza é imutável na sua mutabilidade, mesmo nos desenvolvimentos das suas catástrofes. Nela, porque a somos como própria natureza, vivemos os sentidos de caos e de cosmos, o sincrético e o diferenciado. Por ela chegámos à necessidade da arte, como meio para esconjurarmos forças obscuras e nos revermos na nossa natureza pensante, enquanto conceito e imagem, metáfora e símbolo. Arte/artifício para dilatar o tempo e dominar o espaço, perpetuar a vida e vencer a morte. Pensando a natureza na nossa interioridade abstracta, nas imagens/símbolo que ela é em nós, chegámos à realização da arte, à assunção de que o artificial é o natural do homem, a sua verdadeira natureza, A arte: sublime realização abstracta do homem. Daí a impossibilidade de lhe encontrarmos uma definição universal.” *

Em 1993 realiza para a inauguração do Centro Cultural de Belém, Lisboa, a instalação Nas margens de um rio. Utiliza árvores de água e sete transparências de vidro, cada uma com o seu aforismo “A arte natureza da arte – A arte conceito da arte – A arte vivência da arte – A arte consciência da arte – A arte simbólica da arte – A arte paradigma da arte – A arte abstracto da arte” onde cada qual se pode reflectir como água. Realiza para a sede da Associação dos Arquitectos do Porto a escultura em granito Sobre a água. Recebe a Medalha de Ouro do Concelho de Santo Tirso.

Em 1993 e 1995 viaja pela Índia, Nepal, China e Japão. Nestas viagens observa e medita sobre aspectos das manifestações hinduísta, tântricas, taoista e zenista, particularmente nas representações mandálicas e nas incidências da natureza nas configurações e significado dos jardins. Sobre reminiscências destas viagens realiza, em 1994, 1995 e 1996, vinte e cinco esculturas, que mostra na galeria Pedro Oliveira, Porto, 1995, com o título A Oriente e uma instalação A Oriente na floresta de Ise Shima, que expõe no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1997. Para o catálogo desta exposição Delfim Sardo escreveu “A Invenção da Floresta”.

Não se realizará a obra de arte como um indispensável bem social entre correspondências culturais da identidade dos povos, das etnias, das civilizações e, simultaneamente, na sincrética possibilidade de ela poder responder a todos os autismos estéticos na mais retirada das manifestações pessoais de fruição? A obra de arte não tem tempo, movimenta-se no espaço da nossa consciência histórica. O tempo dela pertence a cada momento de fruição. E é no espaço simbólico que ela se autentica como referência para a nossa vivência estética.” *

Em 1994 é condecorado como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Em 1995-96 realiza, em Gateshead, Inglaterra, no Derwenthaugh Park, como artista residente, uma escultura em pedra The stone garden. Concebe as esculturas em bronze Sobre as árvores para o Metropolitano de Lisboa – Estação da Alameda.

Em 1997-98 realiza a escultura Sobre o mar, granito e madeira, para a EXPO ‘98, Lisboa.

Em 1998 participa no Simpósio Internacional de Escultura de Quito e realiza uma escultura com árvores, pedras, terra e relva, Mandala sobre a paisagem, no Parque Metropolitano da região de Quito. Recebe a Condecoração Nacional de Mérito Cultural de Primeira Classe do Equador. Participa no Arco, Madrid, através da galeria Quadrado Azul, com as esculturas Sobre os rios I, Sobre o fogo e Sobre os ventos. Expõe dez esculturas na galeria Quadrado Azul, Porto.

Estas esculturas revelam-se na existência do corpo sobre os elementos. Correspondem-se no amanho da terra, no cultivo do jardim, na busca de identificações do ser. São instantes de vivências de jardinagem por dentro da arte. São o chamamento que conduz à revelação, que abre o caminho para o infinito da consciência do finito. São o acontecer da fruição da obra em busca da forma que consubstancie a ideia.” *

Em 1999 participa no Simpósio Internacional de Escultura de Puyo, Coreia do Sul, e realiza uma escultura em granito Unity, love, eternity mandala. Integra a Circa 68, exposição inaugural do Museu de Serralves, Porto.

Expõe na Diputación de Huesca Sobre los árboles y el agua no âmbito do evento Arte y Naturaleza. Para o catálogo desta exposição Javier Maderuelo escreveu o ensaio “Alberto Carneiro: sobre La naturaleza y el água”. Realiza a escultura Mandala da floresta, com árvores e calhaus rolados, para o parque Sculpture in Woodland em Devil’s Glen, Ashford, Wicklow, Irlanda.

Em 2000 realiza a exposição antológica Alberto Carneiro – Arte, Corpo e Natureza no Museu Machado de Castro e Galerias do Pátio da Inquisição, Coimbra, integrada nos Encontros de Arte Alquimias – Dos Pensamentos e das Artes. Expõe na Galeria María Martín, Madrid. Na galeria Quadrado Azul mostra trabalhos Sobre a água no âmbito do 2° Congresso Ibérico do Planeamento e Gestão da Água. Publica o álbum “Raízes, caules, folhas, flores e frutos” com desenhos de 1965 e 1966.

Em 2001 instala a escultura Uma coluna sem fim, 1999-2001, madeira de tola e de ocomé, na Biblioteca Almeida Garrett, Porto. Participa na exposição Porto 60-70: Os Artistas e a Cidade no Museu de Serralves. Realiza a exposição Alberto Carneiro – Retrospectiva, no Centro Galego de Arte Contemporánea, Santiago de Compostela. Para o catálogo desta exposição Raquel Henriques da Silva escreveu o ensaio “Alberto Carneiro: os corpos da escultura”, João Fernandes escreveu “Alberto Carneiro: a evidência da natureza na construção da relação humana com o mundo” e Santiago B. Olmo “Alberto Carneiro: a natureza como vivência.” Concebe a escultura A árvore da vida, bronze, para a cidade de Chaves no âmbito da Rede de Escultura Contemporânea da Bacia Hidrográfica do Douro.

Em 2002 finaliza a escultura Os livros da arte e da vida, 1999-2002, granito e árvores, no jardim da biblioteca de Carrazeda de Ansiães e realiza a escultura A mandala da arte e da árvore, terra, pedras e árvore, 2002, na Aldeia Folclórica Coreana, Coreia do Sul. Expõe 30 desenhos, 1965-66, e 3 esculturas, 1991-2001 na Casa da Cultura da Callheta, Madeira. No Parque do Museu de Serralves, inaugura a escultura permanente Ser árvore e arte, árvore, terra, vidros e palavras, 2001-02. Concebe o espaço/escultura A casa da terra e do fogo, árvores, terra, pedras, minério de ferro e aço cortene, 2002, para o Caminho das Esculturas do Vale de Ordino, Andorra. Participa na exposição Arte Internacional entre Dos Milénios, Caixanova, Vigo e Pontevedra.

Em 2003 realiza a exposição Meu Corpo Vegetal, na Galeria Fernando Santos, com 25 esculturas em castanheiro executadas entre 1997 e 2002, para cujo catálogo Fernando Francés escreveu o texto “Territorios del pensamiento”. No Museu de Arte Contemporânea do Funchal mostra 20 obras – Alberto Carneiro. Exposição Antológica 1968-2003 – e na Porta 33, Funchal, cria 3 novas obras – Os caminhos da água e do corpo sobre a terra – e expõe desenhos e pinturas sobre papel. Para o catálogo destas exposições Alexandre Melo escreveu “O viandante esclarecido”. Realiza a escultura Art as tree/Tree as art, árvore, terra, relva, pedras e palavras, na cidade de Taoyuan, Ilha Formosa (Taiwan).

Em 2004, com Javier Maderuelo, apresenta a sua obra na Faculdade de Belas Artes, Universidad Complutense de Madrid. No Palácio da Galeria, Tavira, mostra 20 obras – Esculturas e Pinturas, 1978/2004 – e republica “O outro por ele mesmo”.

A realidade criativa do artista é a de questionar as respostas da arte, no sentido de abrir a percepção para outros sentires e pensamentos do corpo. A arte é uma realidade empírica que se abre às intuições e se projecta no mundo simbólico dos seus fruidores como metáfora de uma realidade mais profunda do ser, que apenas se revela após a experiência e evidência de acto criador. Esta consciência de que a arte comunica através da metáfora e pela revelação de algo que suscita sentimentos e pensamentos que se consubstanciam no mundo do fruidor, transformando a sua sensibilidade estética e o seu entendimento artístico, é essencial para quem trabalha no campo da arte e a quer pública.” *

Em 2005, no Centro Cultural de Cascais, no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso em Amarante e na Galeria Fernando Santos no Porto realiza sucessivamente a exposição Caminhos do Corpo sobre a Terra, 1965-2004, com fotografia, desenho, pintura e escultura. Para o respectivo catálogo Miguel Von Hafe Pérez escreveu: “Possível impossível: olhar o dentro e o fora na obra de Alberto Carneiro” No Espaço Chiado 8 em Lisboa e na Galeria Fernando Santos no Porto mostra uma antologia, Desenhos 1962-2004, e para o correspondente catálogo Manuel António Pina escreveu dois poemas com o título “No atelier de Alberto Carneiro”.

Recebe o Prémio da Imprensa 2004.

Em 2006, na Galeria Trínta em Santiago de Compostela, realiza a exposição Os Murmúrios da Floresta e do meu Jardim, com onze esculturas e três pinturas realizadas entre 1991-2005 e para cujo catálogo Miguel Fernandez-Cid escreveu “Mandala compostelana para Alberto Carneiro”.

Nas Galerias Fernando Santos de Lisboa e Porto mostra oito esculturas e quinze desenhos com o título Ser no Não Ser. Para o catálogo desta exposição Bernardo Pinto de Almeida escreveu “Os nomes de uma obra”. Em Huesca, Espanha, no Centro de Arte y Naturaleza – Fundación Beulas, realiza a exposição antológica Árboles para cujo catálogo Alberto Ruiz de Samaniego escreveu “Al otro lado de la naturaleza” e Javier Maderuelo “El árbol transformado en arte” e, no âmbito do projecto Arte y Naturaleza, inaugura a escultura As árvores florescem em Huesca, obra permanente na paisagem, com texto de Javier Maderuelo, “As árvores florescem em Huesca”. Na Casa Municipal da Cultura de Cantanhede, realiza a exposição Paisagens Íntimas e publica o texto “O subtil na criação: o método não-método”.

Realiza uma escultura A arte sobre a vida/a vida sobre a arte para a Cidade Empresarial de Santiago do Chile.

No Museu Municipal Abade Pedrosa de Santo Tirso expõe Paisagens Interiores, esculturas e desenhos, e no catálogo respectivo publica o texto “As dúvidas da arte em mim”.

Em 2007, a Editorial Caminho publica, na colecção “Caminhos da arte portuguesa no século XX”, “Alberto Carneiro – A escultura é um pensamento”, de Isabel Carlos, as Edições Colibri / Instituto de História da Arte – Estudos de Arte Contemporânea / Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa publicam “Alberto Carneiro: os primeiros anos (1963-1975)”, de Catarina Rosendo, e a Assírio & Alvim publica “Alberto Carneiro. Das notas para um diário e outros textos. Antologia”.

Recebe o Prémio de Artes Casino da Póvoa 2007, a propósito do qual a Editora Campo das Letras publica a monografia “Lição de coisas”, de Bernardo Pinto de Almeida. No âmbito dos eventos deste prémio, em 2008, na Cooperativa Árvore, Porto, realiza a exposição Manifestos – Antologia Breve 1965-2005.

Participa na exposição La Construcción del Paisaje Contemporâneo, organizada por Javier Maderuelo no CDAN – Fundación Beulas, Huesca.

O Instituto Camões, Panjim, Goa, promove a exposição documental “Alberto Carneiro: um escultor em permanente osmose e diálogo com a Natureza”. Esta exposição é ainda mostrada no Chowgule College de Margão.

Em 2009 realiza A natureza da arte para a exposição Hospitalidade, conjunto de instalações para comemorar os 50 anos do Hospital de S. João do Porto.

Realiza cinco obras, Arte e árvore para sempre (1) e Arte árvore em mim / árvore arte de mim (4) para Cascais Landart 2009.

Na Galeria Municipal de Matosinhos expõe “As árvores como os rios correm para o mar”, esculturas e desenhos. Para o respectivo catálogo, Paulo Pires do Vale escreveu “Quantas vezes adormeci entre as ervas?”

Concebe Árvore Mandala para os Gravadores do Vale do Côa, obra permanente instalada no Museu do Côa. A propósito, foi publicado o Caderno 02 do CÔA MUSEU com textos de José Bragança de Miranda “Alberto Carneiro e a dádiva da Arte” , de Bernardo Pinto de Almeida “A Obra que regressa à sua casa de origem” e do Autor “Uma pequena antologia”.

Expõe na Galeria Fernando Santos A Oriente na floresta de Ise Shima.

Em 2010, realiza com Rui Chafes a exposição Khora, comissariada por Sara Antónia Matos que escreve “Um telescópio e uma câmara endoscópica”. Aí mostra desenhos de 1966 a 2009.

Expõe no Armazém das Artes, Fundação Cultural, Alcobaça, Ainda os Murmúrios da Floresta, escultura e desenho.

Concebe Metamorfose sobre a oliveira do meu jardim para a exposição Paradeisos – Culturas del Aceite y Arte Contemporáneo, na Diputación de Córdoba, comissariada por Michel Hubert Lépicouché que escreve no respectivo catálogo “Alberto Carneiro – Metamorfosis sobre el olivo de mi jardin”.

Em 2011, participa na exposição Cambio de Paradigma – Colección Serralves Años 60-70, no Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y Lión.

Concebe a escultura Mandala sobre a Floresta 14 momentos da Arte e da Vida a instalar no Parque de esculturas de Vila Nova da Barquinha, comissariado por João Pinharanda.

Projecta a escultura Casa Mandala da Arte e da Vida a instalar no Parque de Esculturas de Paredes, comissariado por Delfim Sardo.

Expõe na Casa da Cerca, Almada, Com os Elementos, Escultura, Fotografia e Desenho, para cujo catálogo Ana Isabel Ribeiro escreveu “ Ser-se matéria” e José António B. Fernandes Dias “Magic, or as we usually say, Art. Um testemunho”. Republica nesse catálogo as “Notas para um manifesto de uma arte ecológica”.

Em 2012, Expõe no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança, Os Caminhos da Água e do Corpo sobre a Terra – Escultura, Fotografia e Desenho e escreve para o respectivo catálogo o texto “ Antologia autobiográfica – Respostas dadas a muitas perguntas que sempre me colocaram sobre a minha obra”.

Participa no Colóquio Dar Corpo à Graça, organizado pelo Centro Académico de Braga.

A identidade é mutável. Intui-lo e sabê-lo é ter a consciência de a não ser. Avançamos para onde? Este mistério nos prende a esse infinito que jamais explicaremos. É essa a nossa grandeza e poderá ser o nosso regozijo. O que nos liberta é a eternidade sem Deus. A nossa necessidade da arte no-lo diz. E ela nos concede, ao menos, a tranquilidade de sermos diversos para sempre”.*

* Textos escritos por Alberto Carneiro entre 1965 e 2006.