AMADOR de Gerardjan Rijnders
Tradução Lut Caenen Dramaturgia Miguel Castro Caldas Assistente Ricardo Carolo Com António Filipe, Elsa Galvão e Sérgio Conceição Cenário e figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos
Uma produção Artistas Unidos
No Convento das Mónicas de 1 de Fevereiro a 4 de Março de 2007
O texto está editado na Revista Artistas Unidos Nº 3
Um crítico de teatro regressa a casa após assistir a mais um mau espectáculo. Tomou uma decisão. Nunca mais irá ao teatro. E também não escreverá mais nenhuma crítica. Nem mais um Ibsen, nem mais um Brecht ou Shakespeare. Mais valia um cancro; mais valia ter morrido. Mas não quer assistir a mais espectáculos. Para ele, o teatro já não tem ligação com a realidade. O drama está em todo o lado, excepto no palco. Num ímpeto sarcástico expressa a sua raiva pelo teatro contemporâneo: um teatro de imitação que já não tem nada a ver com a vida real.
A mulher e o filho Pedro, também presentes na sala de estar, tentam interrompê-lo, mas sempre sem conseguirem. Ele continua a tocar a sua cantilena. Agarra-se à realidade que compilou dos jornais, fragmentos da rádio e imagens da TV. Ao mesmo tempo, desenrola-se mesmo por baixo do nariz dele, mas sem que ele se aperceba, o drama da mulher e do filho. O crítico não vê nada do que se passa ao seu lado. O drama da realidade passa-lhe mesmo ao lado.
Gerardjan Rijnders escreve, no fundo, um longo monólogo. Usa uma linguagem contemporânea e agressiva, repleta de frases curtas, muitas vezes apenas uma ou duas palavras.
As personagens que habitam o trabalho de Rijnders apresentam uma vontade sem limites de viverem a suas perversões. Só se agarram às normas de comportamento pequeno-burgeusas que o autor desmascara como superficiais.
Rijnders escreve numa linguagem que parece vir de todo o lado: jornais, pedaços de conversas da rua ou das salas de espera, televisão, palavras vazias dos políticos. Palavras, frases fragmentadas, muitas vezes sem ligação lógica directa.
Rijnders sobre o seu trabalho, ‘a ideia de conteúdo de uma peça é como a ideia de personagem: ordem aleatória de alguns patrões de reacção. Uma nota traz a outra. O som e cor das palavras é mais importante que o seu significado’.
Amador é uma nova obra de arte do moralista Gerardjan Rijnders
Elsevier, 11 de Abril de 1992
Amador é um lamento mono-maníaco como apenas Thomas Bernhard conseguiu escrever até aos dias de hoje. (…) Rijnders escreveu e dirigiu a peça com horror moral e intelectual, mas na vertente popular que conhecemos do cinema e que nunca vimos no teatro. (…) Com esta peça Rijnders mostra-se um mestre da corda-bamba, completamente seguro no seu trabalho arriscado.
NRC Handelsblad, 1 de Abril de 1992
Amador é uma imagem inteligente do nosso tempo superficial e um testemunho muito pessoal da sociedade moderna e do seu teatro.
Het Financieele Dagblad, 2 de Maio de 1992