ÂNGELO DE SOUSA: TUDO O QUE SOU CAPAZ de Jorge Silva Melo

ÂNGELO DE SOUSA: TUDO O QUE SOU CAPAZ

Realização Jorge Silva Melo Com Nuno Faria e João Perry Assistência de realização Joana Frazão Imagem José Luís Carvalhosa Som Armanda Carvalho, Quintino Bastos Montagem Vítor Alves e Miguel Aguiar, Produção João Matos, Manuel João Aguas Uma Produção Artistas Unidos/ RTP

Estreia na RTP 2 a 23 de Janeiro de 2010
No Panorama (Cinema São Jorge) 13 de Abril de 2010
Na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva a 18 e 25 de Julho de 2010
No Cineclube de Ponta Delgada a 27 de Setembro de 2010
Na Casa das Histórias de Paula Rego a 2 de Outubro de 2010
No Temps d’Images (Cinema Nimas) 11 de Novembro de 2010
No Cinema City Classic Alvalade a 10 de Dezembro de 2010

Um documentário sobre Ângelo de Sousa, pintor.

Ou antes um filme com Ângelo de Sousa, de tal forma estamos perto da sua colaboração? Um filme ao sabor de encontros espaçados no tempo (realizámos um primeiro encontro em Maio de 2007, a que se seguiram duas entrevistas em Setembro desse ano, duas em 10 de Maio de 2008, duas em Maio de 2009, filmámos a inauguração da exposição na Quadrado Azul em Novembro de 2009 – aproveitando apresentações públicas de obras., em que pretendemos captar a permanente fixação de um artista que insistiu na elementaridade dos meios, no abandono dos materiais nobres e dos processos complexos de criação.

Ou o retrato de um homem que se quer teimosamente simples, artista que reduziu o seu trabalho às três cores primárias e ao preto e branco, inventando permanentemente novas formas ou alterando as formas em suportes que as dinamizam.

ÂNGELO DE SOUSA: TUDO O QUE SOU CAPAZ

E, tal como a cor, que, a partir dos anos 60, Angelo vai trabalhando em fatias, camadas como que geológicas, socalcos e contornos, em função de campos e de horizontes, em diferentes graus de fusão e separação, o propósito deste filme será a permanente sobreposição de tempos, gestos, palavras, uma justaposição de momentos e declarações, um riscar cerrado, “curvando e abrindo os espaços de cor, criando cortinas e torrentes vigorosas, o estabelecimento de esquinas pela cor, para a criação de ambiguidades entre o plano e o volume.” (na feliz expressão de Leonor Nazaré).

Um filme sem fim nem princípio – como o trabalho singular de Ângelo de Sousa.

Ângelo de Sousa vive e trabalha no Porto desde os anos 50.

Filmei em Coimbra numa exposição de escultura, em casa (no Porto), no atelier (no Porto), voltei a filmá-lo em Serralves, junto às suas esculturas, em Esmoriz na casa de praia, filmei-o, em Lisboa, falando-me das obras que tem na Colecção Berardo ou na Gulbenkian.

Uma conversa ininterrupta com um homem cordial, extrovertido, divertido, irreverente, bem disposto, generoso. Ou melancólico?

Inquieto, Ângelo guia-me pela sua sempre declarada alegria, permanente conquista diária das formas simples.

Da mesma maneira que Angelo pintou, nos anos 70, um “catálogo de algumas formas ao alcance de todas as mãos” (obra-manifesto que se encontra na colecção Manuel de Brito em Algés), este filme organiza-se como um catálogo de todas as formas ao alcance de Angelo: como se fosse a colagem de 10 curtas-metragens (que poderiam ser vistas separadamente, em ordem inversa…ou na que propusermos, sendo um filme “mobile”…), nunca a apresentação de uma biografia ou mesmo o comentário da obra. Serão talvez ragmentos que não tencionam esgotar a personagem, antes deixá-la fechada em si, rodando sobre si, na sua imparável conquista da alegria.

Nenhuma outra voz que não a do artista; nenhum comentário para além do seu; nenhuma referência a influências, escolas, perspectivas, para além das que ele faz: apenas.

Ângelo, tal como ele quer.
Jorge Silva Melo