ANTÓNIO, UM RAPAZ DE LISBOA de Jorge Silva Melo

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Estreia no Grande Auditório da Gulbenkian – Encontros Acarte – 18 de Setembro de 1995

Teatro Tivoli, 17 de Abril de 1996.

O texto (elaborado num Seminário de Escrita Teatral entre 1 de Fevereiro e 14 de Março de 1995) está publicado nas Edições Cotovia.

Por que nos retiraram de cena? A nós, que estamos vivos (e não será preciso, depois de tanto terramoto, decidir “cuidar dos vivos e enterrar os mortos”?) Porque voltaram os mortos a todas as cenas? Porque é que, para falarem hoje connosco, precisam os actores de pôr peruca, collant e armadura?Porque é que se tratam uns aos outros por Vosselência com voz de sepulcro? Ou, se os gestos são os de agora, nunca as personagens se encontram na Almirante Reis, e sim algures numa Alemanha que é um puro “não-lugar teatral”?

 

[…]

Fazer um texto – um texto, um texto, um texto! – dos dias de hoje. Tão de hoje que até haverá partes em que as personagens verão a TV do dia e lerão os jornais da véspera ou desse mesmo dia.

[…]

Este texto começa, assim, de uma maneira e rapidamente bifurca; instala-se num realismo que seria hiper como os mercados para logo passar a uma narração que é lírica se não for pirosa, e arriscamos mesmo na parte 3 a pura fantasia teatreira. Porque se tutto è susceptibile di teatro, também a escrita do teatro

[…]

pode ser aberta a tudo, não se prender, deixar-se andar, maria que vai com as personagens e os temas e não se rala. […] [A pensar] sobre como é viver em Lisboa. Um rapaz viver em Lisboa. Uma rapariga, outra, uma mulher, outros rapazes. Quando? Hoje. Será como a gente escreveu? Se calhar não é. E depois?
Jorge Silva Melo