AOS QUE NASCEREM DEPOIS DE NÓS – CANÇÕES DO POBRE BB de Bertolt Brecht
Texto Bertolt Brecht Tradução João Barrento Com Lia Gama , Jorge Palma, Manuel Wiborg, Miguel Borges, Pedro Assis, Bruno Bravo e João Meireles Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves assistida por Ana Paula Rocha e José Manuel Reis Direcção cénica Jorge Silva Melo
Construção Fernando Nobre Execução do cenário Equipa Técnica da CTB / TC Luz Pedro Domingos Som Filipe Leite Música Kurt Weill, Bertolt Brecht, Hans Eisler e Jorge Palma Direcção musical Jorge Palma Músicos Carlos Barrento, Greg Moore, Rui Alves e Paulo Gaspar Repetidor João Aboim Produção Isabel Muñoz Cardoso e Luz da Câmara Secretária de produção Helena Barros Adida de imprensa Ivone Costa
Uma co-produção Artistas Unidos / Companhia de Teatro de Braga
Estreia Festival Internacional de Teatro de Almada, 17 de Julho de 1998.
E foi com a curiosidade de ver trabalhar um artista tão sensível e original como o Jorge Palma, de voltar a ter connosco a minha muito querida Lia Gama e a sua enorme inteligência dramática e de meter no barco cinco rapazes dos que de mais perto comigo nestes anos têm trabalhado que parti para este espectáculo que não sei fazer e isso é bom.
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Mas como voltar a dar a estas canções aquilo que as fez nascer, a rudeza que, com o tempo e as gravações digitais, as orquestrações à Broadway e a sofisticação pequeno-burguesa dos anos 80 foram perdendo? Como voltar a ouvi-las herdeiras de Aristide Bruant e do rumor sanguinolento das canções que nasceram com as batalhas da Comuna de Paris? Foi por isso, para voltar a ouvi-las na sua ingenuidade e grandeza, que colocámos no centro do espectáculo duas músicas do jovem Brecht que à guitarra se acompanhava nas noites de Munique anos 10, imitando Wedekind, escrevendo à Karl Valentin. A Balada do Soldado Morto e o Coral do Grande Baal aí estão no coração da noite de hoje como fonte dessa insubmissão que o som dos anos mais recentes foi lavando com o cor-de-rosa dos sabonetes e o consenso suavemente simbolista das “democracias”.
Jorge Silva Melo
Igualmente impecáveis estiveram os músicos. Para Além de Jorge Palma, ao piano e na guitarra eléctrica, o desempenho instrumental esteve a cargo de Carlos Barreto, Rui Alves, Paulo Gaspar, Jacinto Santos e o mentor dos Ena Pá 2000, Manuel João Vieira. E depois… E depois houve Lia Gama. Um Anjo Azul. Josef Von Sterberg, se fosse vivo e estivesse entre a esgotada plateia, havia de pensar estar defronte de uma encarnação de Marlene Dietrich.
João Miguel Tavares
Diário de Notícias, Setembro 1998