AS CONVERSAS DE LEÇA EM CASA DE ÁLVARO LAPA (1998-2006) de Jorge Silva Melo

As conversas de Leça em casa de Álvaro Lapa (1998-2006)

As conversas de Leça em casa de Álvaro Lapa (1998-2006)
Com Álvaro Lapa Realização Jorge Silva Melo, imagem de Rui Poças, som de Emídio Buchinho, montagem de Vítor Alves, assistência e documentação de Joana Frazão, Américo Silva, António Simão e João Miguel Rodrigues, produção de Manuel João Aguas, uma produção Artistas Unidos/ Rogério Ceitil com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Fundação de Serralves, Galeria Fernando Santos, Editorial Caminho, Neupergama.

Estreia no âmbito da exposição “Álvaro Lapa: Obras-Com-Palavras e Paisagísticas” (24 de Novembro de 2006).

O texto das entrevistas encontra-se publicado no catálogo editado pela Assírio e Alvim.

Estreia dia 23 de Novembro de 2006 no Museu da Cidade (até 28 de Janeiro) – No Museu da Cidade no âmbito da Exposição Retrospectiva de Álvaro Lapa “Obras – com palavras e paisagísticas” – sessão contínua nos pavilhões da exposição.
Outras exibições: Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian integrando o ciclo de documentários sobre artistas no âmbito da exposição “50 Anos de Arte Portuguesa” comissariada por Raquel Henriques da Silva (18 de Julho de 2007)

Temos a arte, dizia Nietszche, para não morrer ou enlouquecer perante a verdade, não temos a verdade, temos a arte para não enlouquecer – é um provérbio famoso dele – para não enlouquecer, ou morrer de terror, perante a verdade.
Álvaro Lapa

São quatro filmes (de duração total de 2h 40m), duas longas entrevistas realizadas em casa de Álvaro Lapa. Servem de base para o filme Álvaro Lapa: a Literatura (em fase de montagem).

I. 1998

Em 1998, fomos a Leça pela primeira vez. Falar com o Álvaro Lapa. Perguntar-lhe se nos dava uma entrevista sobre o Joaquim Bravo, sobre quem preparávamos um filme. Disse que sim. Fomos lá uns meses depois, a 29 de Setembro, com muita cautela. Parte dessa entrevista foi usada no filme que fizemos sobre Joaquim Bravo. E foi deste reencontro que nasceu o desejo de fazer um filme sobre o Álvaro.

Álvaro Lapa: Nós conhecemo-nos, o Bravo e eu, numa certa idade. Ele mais velho, dois, quatro anos, seria. Ele nasceu em 35, eu em 39, quatro anos. O que, na altura, fazia uma diferença grande. Conhecemo-nos apesar disso, dessa diferença. Houve uma atracção, uma descoberta. Eu usaria o termo descoberta, qualquer coisa que estava à vista mas não se via, e de repente se passa a ver. Houve essa atracção que era uma amizade com todas as características próprias, um conhecimento defeituoso, tumultuoso, de parte a parte. Uma relação pouco crítica, pouco sensata. E talvez a pintura, a escolha da pintura também entre nessa onda de insensatez, de desafio.
Tem a ver com a adolescência, não sei se é ânsia se é veleidade de realização pessoal, aquela idade em que se pretende decidir o que é que se vai fazer, o que é que se vai fazer de heróico.

II. 2006

Em Janeiro de 2006, filmei durante duas tardes com Álvaro Lapa. Uma entrevista. Em Leça, no seu atelier. Foi aquando da inauguração, na Galeria Fernando Santos, no Porto, da exposição Reunião, que já tinha sido apresentada em Lisboa. Foi nos dias 13 e 14 de Janeiro de 2006. Cerca de três horas em cada uma das tardes.

Álvaro Lapa: Disponível, disponível é a juventude. Mesmo que seja incapaz, incompetente, estouvada, destrutiva. Mas é disponível.