ÀS DUAS HORAS DA MANHÃ de Falk Richter

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Fotografia © Paulo Nuno Silva

ÀS DUAS HORAS DA MANHÃ de Falk Richter Tradução Carlos Borges Com Beatriz Antunes, Fábio Costa, Mafalda Taveira, Mariana Reis, Nuno Machado e Tiago Moreira Encenação Fernando Mora Ramos Produção Teatro da Rainha M14

No Teatro da Politécnica de 9 a 11 de Maio
5ª às 19h00 | 6ª e Sábado às 21h00

MAX Uma ausência, / eu quero ser uma ausência, / uma interrupção, /o lugar vazio no sistema, / a falha
Falk Richter, Às Duas Horas da Manhã

Constanze perdeu o rastro a Tom, colega de trabalho com quem tem uma relação amorosa. Marc, espécie de alter-ego do Autor, hesita na construção das suas personagens. Timo encarna Helge Gonzensheimer numa entrevista de emprego que lhe sai completamente ao lado. Lisa está grávida, o que leva Constanze ao desespero. Há que investir na firma, a verdadeira família, o bebé. Max encontra-se à beira do abismo, do esgotamento à loucura vai um passo. Todos tentam comunicar com alguém, mas a linguagem escapa-se-lhes. Encerradas dentro si, as personagens de Às Duas Horas da Manhã perdem-se num labirinto de solilóquios que as impele para o abismo da solidão. Neste texto de Falk Richter, um arquipélago de monólogos e diálogos constítui um tratado sobre a existência num contexto pós-moderno, num mundo que é cada vez mais individualista, em que há cada vez menos pessoas com quem se pode conversar, em que deixa de haver espaço para a intimidade e em que o tempo é sempre contado. Para Michell Billington é um teatro diferente de todos os outros, para Gabriel Dufay é uma partitura rítmica que nunca nos leva ao lugar onde achamos que ela vai.

Remexendo numa quantidade de temas contemporâneos e preocupações urgentes, assistimos a cenas realistas às quais se sucedem cenas de natureza brechtiana, com o objectivo de levantar questões sobre as pequenas prisões quotidianas nas quais nos fechamos – não só no que diz respeito ao trabalho, mas, sobretudo, ao mundo como um todo. Como é que se vive num sistema cada vez mais obcecado pela eficiência e produtividade? O que significa amar alguém? Como é que se pode viver autenticamente num mundo em que as relações são cada vez mais precárias? A linguagem pode ainda significar qualquer coisa, quando andamos tão preocupados com os números?

Através destas personagens-testemunho vamo-nos apercebendo que a maior consequência da visão do mundo como empresa é a solidão profunda a que estaremos sujeitos. Deixar o. escritório, os objectivos de rentabilidade do tempo e a performance canibalizarem a vida privada e a intimidade significa tornarmo-nos prisioneiros da solidão.