Até aos olhos
Uma exposição fotográfica de Jorge Gonçalves
No Centro Cultural da Malaposta a partir de 27 de Março (dia Mundial do Teatro) de 2008
Até aos olhos
Que pessoas são estas, quase sempre isoladas nas fotografias de Jorge Gonçalves, que personagens são quase sempre abandonadas, muitas vezes apanhadas do outro lado, a contrapelo da encenação, que corpos são estes tão sozinhos?
A relação que o fotógrafo Jorge Gonçalves estabelece com a cena é rara: entra pelo palco dentro, fotografa por vezes os actores que aguardam a entrada, fotografa do ângulo oposto ao da visão do espectador, insiste, volta, fotografa, aguarda o momento que já viu, vai mais perto ainda, quase pisa o que não deve pisar, ansioso, sôfrego.
A sua visão não é arquitectural, como a de muitos dos fotógrafos de cena. Também quase não são retratos estes às vezes retratos de pessoas sozinhas, são momentos de acção que o Jorge suspende, dilata, estende, pára.
E se continuo a espantar-me com a sua sensibilidade fremente é também porque estas fotografias não são ”fotografias de cena”, são um longo e variado olhar sobre pessoas em acto: os actores que amo e para quem ele olha com uma teimosia, uma volúpia, uma sofreguidão, um desejo sempre vivos.
Jorge Gonçalves é um fotógrafo raro. Ele fotografa os corpos num momento de movimento (ou de olhar?) suspenso: é fácil ele recusar a pose de um actor, não lhe interessa a paragem, nem gosta de estar longe, é-lhe mais simples ir espreitar do outro lado do espelho para encontrar um rosto, um tronco, uma mão, um ombro, um peito, uma visão, um olhar. Mas um olhar, um gesto acesos, abandonados e acesos.
Como estão sozinhos os olhares nas fotografias do Jorge Gonçalves.
Jorge Silva Melo