COMEMORAÇÃO de Harold Pinter Tradução José Maria Vieira Mendes Com Alexandra Viveiros, Américo Silva, <António Simão, João Meireles, Pedro Carraca, Sílvia Filipe, Sylvie Rocha, Tiago Matias, Vânia Rodrigues Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Encenação Jorge Silva Melo Assistência de encenação a href=”index.php?option=com_content&view=article&id=131:joao-miguel-rodrigues&catid=39″>João Miguel Rodrigues e Alexandra Viveiros |
A NOVA ORDEM MUNDIAL de Harold Pinter Tradução de Paulo Eduardo Carvalho com Nelson Boggio, Rúben Gomes, João Delgado e Elmano Sancho Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Encenação Jorge Silva Melo Assistência de encenação a href=”index.php?option=com_content&view=article&id=131:joao-miguel-rodrigues&catid=39″>João Miguel Rodrigues e Alexandra Viveiros
Co-produção Artistas Unidos/ CCB
No Teatro Aveirense (Aveiro) a 6 e 7 de Maio de 2010
No Teatro Municipal da Guarda a 13 de Maio de 2010
No Cine-Teatro Municipal de Ponte de Sor (Teatro da Terra) a 14 e 15 de Maio de 2010
Estreia no CCB de 21 de Maio de 2010
Os textos estão editados em Teatro II de Harold Pinter (Relógio de Água)
EMPREGADO O pato é para quem?
LAMBERT O pato é para mim.
JULIE Não é nada.
LAMBERT Não é nada. Então é para quem?
JULIE Para mim.
E voltamos a Harold Pinter. Com a sua derradeira peça. Três casais jantam no restaurante mais caro da cidade. E inicia-se um diálogo que será uma teia complexa de temas mais terríveis. Uma autêntica guerra de palavras. Um mundo de dinheiro novo, ostentatório, o mundo do capitalismo mais feroz.
A NOVA ORDEM MUNDIAL
Dois soldados, um homem vendado, uma tortura. Para ensinar a democracia. Um skecth de Harold Pinter seco, duro, elíptico: estamos onde? Na América Latina torturando um teólogo da libertação? Em Abu Ghraib? Numa pequena sala, dois guardas discutem o que devem fazer à vítima que permanece sentada em silêncio e de olhos vendados à sua frente. A nova ordem mundial reduziu todos os dissidentes ou a individualidade a uma conformidade cega.
Os discursos que ouvimos indicam-nos aquilo que nós não ouvimos. É uma evasão necessária, uma cortina de fumo violenta, enganosa e sofredora ou apenas escarnecedora daquilo que mantém o outro no seu lugar certo. Quando um silêncio verdadeiro se abate ficamos apenas com o eco e mais perto da nudez. Uma das maneiras de se olhar para o discurso é a de se dizer que ele é um estratagema constante para escondermos a nudez.
Harold Pinter
Onde foi o corpo morto encontrado?
Quem encontrou o corpo morto?
Estava morto o corpo morto quando foi encontrado?
Como foi o corpo morto encontrado?
Harold Pinter
“Harold Pinter. Um universo de incertezas, contradições, mentiras, invenções, não-ditos, uma escrita sucinta, rarefeita. E um diabólico domínio da lingua que lhe permite, com quase nada, criar tensões. Numa segunda-metade do século XX dinamitada por tantas vanguardas, Pinter insistiu sempre no realismo presencial do teatro: um sofá é um sofá e ele gosta de quartos de três paredes. Os seus celebrados diálogos são coloquiais e muitas vezes anódinos. Mas um “bom dia” dito por uma personagem sua pode ser um jogo mortal e não uma fórmula de cortesia. O seu ramo não é o da psicologia. Não temos passado para muitas personagens, nem motivação para os seus actos. Filho do “behaviourismo” dos “Assassinos” de Hemingway, O Serviço, um dos seus primeiros textos, é uma constatação. Ora, como é que um actor se pode limitar a constatar? Limitar-se a estar presente, sem as armadilhas das intenções profundas? (…)
Mais tarde, Pinter, começando um novo ciclo na sua obra, depois de em 1970 ter encenado no Mermaid Theatre de Londres uma peça de James Joyce, Exilados, peça então esquecida, debruçou-se sobre esta estrutura ibseniana e veio sobrepor ao teatro da surda ameaça com que as suas peças iniciais foram rotuladas, um teatro da memória, os intrincados torcidos e tremidos da memória de que são exemplo Paisagem e Há Tanto Tempo. Parece ter deixado de haver perigo ou o perigo está dentro de nós, num passado nunca lembrado mas sempre presente. A que também não é alheio o trabalho que fez com Joseph Losey ao tentar adaptar Proust ao cinema (que dará, em 2000, a adaptação cénica Remembrance Of Things Past). Porque a sua escrita é viva, se move imparável numa tentativa cada vez mais acerada de abranger o mundo pantanoso, houve quem se surpreendesse com a clareza política de alguns dos seus textos dos anos 80/90 de que Um Para O Caminho é famoso exemplo. Mas esta clareza, esta economia, esta brutalidade rarefeita vinham de trás, de muito longe: e os pobres diabos ameaçados de O Serviço ou de Feliz Aniversário estavam no mesmo universo onde o poder é arbitrário. Só que agora quem entra em cena é o ameaçador, quem toma a palavra e vaiaté à boca de cena não é o ameaçado. E também Harold Pinter dá voz (e deu corpo ao representá-lo ele próprio) ao torturador…”
Jorge Silva Melo