Centro Cultural de Cascais de 16 de Dezembro a 14 de Fevereiro de 2010
Nikias Skapinakis
Desenho a Preto e Branco e a Cores Antologia Gráfica, 1958-2009
Em 1962 comecei a pintar uma vista de marquises nas traseiras de uma rua de Lisboa.
Ao contrário do que habitualmente fazia, não empreguei logo a cor na definição dos planos mas desenhei-os utilizando um óleo acastanhado. Depois, pintei o céu com um azul esverdeado, recortando o perfil dos prédios; preparava-me para introduzir a cor no monocromatismo da composição quando verifiquei que tal não era possível.
O desenho tinha-se sobreposto. Limitei-me, recordado de Mondrian, a introduzir pequenos rectângulos de cor, nas janelas, que pontuaram o quadro. Mas, desde essa altura, o desenho passou a estruturar antecipadamente a minha pintura.
Não se tratava, contudo, de colorir o esboço; na verdade o desenho passou a definir os planos do quadro, contendo implícito um projecto da cor.
Só em 1985 o desenho se tornou verdadeiramente autónomo no meu trabalho. Até aí, desde os anos 50, tinha sido preenchido pelas ilustrações e sobretudo pelas litografias, além de uns raros desenhos a lápis ou a caneta.
As ilustrações utilizando uma técnica mista, começaram em 58, com a edição especial de “Quando os Lobos Uivam” de Aquilino Ribeiro, de resto, logo apreendida; ilustravam com os seus planos cinematográficos, as revoltas campesinas, o julgamento no Tribunal Plenário e outras situações do romance, terminando nos lobos que punham a descoberto a caveira de um vilão justamente assassinado.
A prática litográfica começou, igualmente em 58, na Cooperativa Gravura e continuou nos anos 60 e 70, sempre a preto e branco, referenciando paisagens, circos e figuras populares.
As litografias acompanharam a expressão lírico-expressionista da pintura, transferindo a cor para a utilização das infinitas nuances do preto para o branco.
Em 63 apareceram alguns desenhos a lápis; retratos e paisagens, a que chamei desenhos do Aljube e, em 72, esta tendência figurativa foi contrariada com desenhos abstractisantes de pequeno formato que se inscreviam na maneira que, na pintura, designei como Parafiguração.
A autonomia do desenho foi, portanto, até 85, relativa. Nessa altura, porém, verificou-se uma espécie de “explosão” e, a partir dela, o desenho passou a constituir uma prática regular que, relativamente ao suporte, se dividiu entre o papel higiénico e o papel de embrulho.
Nikias Skapinakis, 2009