FALA DA CRIADA DOS NOAILLES QUE NO FIM DE CONTAS VAMOS DESCOBRIR CHAMAR-SE TAMBÉM SÉVERINE NUMA NOITE DO INVERNO DE 1975, EM HYÈRES de Jorge Silva Melo Com Elsa Galvão, Vânia Rodrigues, Pedro Lamas/João Miguel Rodrigues(*), Pedro Mendes, António Simão, David Granada, Diogo Cão, Estevão Antunes/Pedro Carraca(*), Inês Cunha, Jessica Anne, Joana Barros, Joana Sapinho/Mafalda Jara(*), João de Brito, João Delgado, Marta Borges, Miguel Aguiar, Raquel Leão, Ricardo Batista/Tiago Cadete(*), Rúdi Fernandes, Sara Moura, Sérgio Conceição, Susana Oliveira e Tiago Nogueira Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Maquilhagem e cabelos Eva Silva Graça e Ana Duarte com o apoio de Alexandra Viveiros Assistente Pedro Lamas Encenação Jorge Silva Melo
Co-produção Artistas Unidos / Culturgest
Leitura em Mecenas, Mecenas, na Fundação Gulbenkian a 3 de Junho de 2007
Na Culturgest (Festival de Almada) a 16, 17 e 18 de Julho de 2010
No Porto (TECA) de 16 a 19 de Setembro de 2010
No Teatro da Trindade, de 6 a 29 de Janeiro de 2011
Uma paródia inconsequente de Jorge Silva Melo.
Uma eterna criada evoca as ricas horas dos mecenas, os bailes loucos, a arte livre, o amor livre, o financiamento de L`Age D´Or de Luis Buñuel, tudo na altura em que se anuncia a vinda do realizador espanhol ao palacete de Hyères onde ainda vive o Conde de Noailles, mecenas que foi de tanta gente e tanto dos surrealistas: estamos a meio dos anos 70 (do século XX) e os anos loucos já se foram, com as jóias da família. Muito livremente inspirado em O Meu Último Suspiro de Buñuel – e nas botinas de Diário de Uma Criada de Quarto de Buñuel, é claro. E Séverine era a Belle de Jour do romance de Joseph Kessel de que Buñuel e Oliveira se apropriaram, maliciosos.
Diz que é espanhol.
Espero que não seja aquele pequenito e entroncado
que me apalpava o rabo sempre que eu o ia servir
e que vinha cá com uma mulher diferente sempre
mesmo que fosse hoje e no dia seguinte e depois de
amanhã
era sempre uma mulher diferente grande rabo
grande peito mais altas que ele sempre
que ele era pequenito e entroncado quase careca
ou rapava o cabelo
era pintor.
É um monólogo delicioso da criada dos famosíssimos Noailles, que tantos artistas mecenaram, tantos projectos apoiaram e tantas festas temáticas deram (vimos imagens das festas surrealistas e ficámos com alguma inveja).
Uma mulher que viu passar, gostou e odiou, e até se envolveu, tantas figuras da modernidade do século XX.
Ali fala delas de uma maneira cómica e caricatural. Descomprometida e despretensiosa.
São sempre “aquele que faz umas coisas…” que ela não percebe bem mas que acaba por
gostar.
Elsa Galvão fá-lo muito bem.
Uma delícia a não perder.
Luís Royal, Choosearoyal.blogspot.com
Os Noailles
Charles de Noailles nasceu em 1891. A sua mulher Marie-Laure de Noailles (cuja família ainda descendia do Marquês de Sade) nasceu em 1902. Casaram em 1923. Antes do casamento já eram amigos de Jean Cocteau e, em 1923, Charles de Noailles encomendou um retrato da mulher a Picasso. Nesse mesmo ano, contrataram o arquitecto Robert Mallet-Stevens para lhes construir uma casa de Verão nas colinas por cima da cidade de Hyères. As obras demoraram 3 anos e acabaram por incluir um jardim cubista desenhado por Gabriel Guevrekian. Apesar dos rumores de que Charles de Noailles preferia sexualmente homens, o casal teve duas filhas. Entre 1920 e 1930, os Noailles foram importantes mecenas da arte moderna, especialmente do surrealismo. Apoiaram projectos de Man Ray, Salvador Dalí, Luis Buñuel e encomendaram obras a Balthus, Giacometti, Brancusi, Miró e Dora Maar. Financiaram os filmes Les Mystères du Château de Dé de Man Ray, Aubade de Poulenc, L’Age d’Or de Buñuel e Le Sang d´un Poète de Cocteau. Em 1940, a propriedade dos Noailles foi ocupada pelo Exército Italiano e transformada em hospital. A casa continuou a ser a residência de Verão de Marie-Laure até 1970. Charles de Noailles morreu em 1981. A casa é agora um centro de artes.
L’Age d’Or é um filme realizado por Luis Buñuel em 1930, escrito por este em colaboração com Salvador Dalí. Custou 1 milhão de francos e foi Charles de Noailles que encomendou o filme em 1928 para o aniversário da mulher. Quando estreou, no Studio 28 em Paris, recebeu uma chuva de protestos. Para comseguir a autorização da censura, Buñuel teve que o apresentar como sendo o sonho de uma senhora. A 3 de Dezembro de 1930, um grupo de membros da Liga de Patritotas atirou tinta para o écran, atacou o público e destruiu obras de Dalí, Miró, Man Ray, Yves Tanguy, entre outros que estavam a ser exibidas no foyer. A 10 de Dezembro, o Perfeito da Polícia de Paris conseguiu proibir as projecções do filme. Um jornal espanhol condenou o filme por ser ‘a maior corrupção repulsiva da nossa era… o novo veneno que o Judaísmo, a Maçonaria, o fanático sectarismo revolucionário queriam para corromper o povo’. A família Noailles retirou o filme de circulação durante quase 50 anos.