GEORG BÜCHNER

Georg_Buechner

Filho de um médico ilustre, nasceu em Goddelau, uma pequena cidade perto de Darmstadt, na Alemanha, a 17 de Outubro de 1813. De génio científico brilhante, Georg, influenciado pelo pai, decidiu começar a estudar medicina em 1831, aos 18 anos. Dois anos mais tarde, contudo, a sua atenção virou-se para a história e a filosofia, e envolveu-se profundamente nas lutas políticas do seu tempo. Isto levou a que trocasse a Alemanha por Zurique, onde continuou a sua formação na Universidade. Morreu a 19 de Fevereiro de 1837, aos 23 anos, após sofrer de uma das “febres” generalizadas do seu tempo, provavelmente tifo. Büchner escreveu algumas das peças mais influentes da história do teatro ocidental: A Morte de Danton (1835). Leôncio e Lena (1836) e o inacabado Woyzeck (1837). Apesar de, na altura, o seu trabalho ter tido pouco impacto, influenciou um espectro incrivelmente largo de práticas teatrais, desde a sua redescoberta por Gerhardt Hauptmann nos finais do século XIX. A Morte de Danton é a primeira peça escrita por Büchner, com 21 anos. A sua pesquisa para a peça começou no final de 1834 e completou a primeira versão em 5 semanas já em 1835. A peça só estreou em 1902, muito após a morte de Büchner. A Morte de Danton confronta-nos com os problemas mais graves da ideologia e da crença. Os assuntos em A Morte de Danton são subtis e caracterizados com mestria, emergindo de uma época particularmente problemática e dramática na história dos movimentos democráticos no ocidente, a era da Revolução Francesa e do Terror. A acção, que tem lugar depois da decapitação de Luís XVI e Maria Antonieta, traça a queda do espírito democrático, a partir das alturas do idealismo até às profundezas do desejo vingativo e sanguinário. A peça acompanha a história de George Danton, um poderoso e carismático orador e líder das forças antimonárquicas pós-revolucionárias, que se volta contra o poder exercido pelos seus correligionários (nomeadamente Robespierre) e tenta parar as medidas atrozes que trazem tanto sofrimento ao povo. Robespierre impede-o e usa o Tribunal para condenar à Danton e toda a oposição à morte, consolidar o seu poder e chacinar inúmeros milhares de homens, mulheres e crianças franceses. No final, Danton é levado à guilhotina.

“Büchner, apaixonadamente humano, politicamente rebelde, manifestando-se com impaciência, queria claramente que a forma da sua peça se ajustasse às suas visões radicais das personagens, da política e da história. A estrutura tradicional teria sido limitadora, já que a peça que é precursora, filosoficamente, do existencialismo do século vinte, que põe a nu o idealismo narcótico da acção pública, e que explode com as injunções aristotelianas. A Morte de Danton é a primeira peça a começar depois do seu clímax. O destino do protagonista – a sua execução pelo grupo de Robespierre – já está mais que decidido antes de a peça começar. A peça poderia igualmente chamar-se Danton a Morrer. Ele tenta defender-se devido à pressão dos seus amigos; no entanto, desde o primeiro momento da peça, o assunto está estabelecido na sua mente. Ele vai morrer. Assim, a intenção dramática inconvencional de Büchner forçou-o a prescindir das estruturas clássicas dos seus adorados Shakespeare e Goethe e a moldar a sua peça de uma maneira tão inovadora e explorativa como o seu pensamento”. (…) “A peça depende de um andamento, de um ritmo de progresso, de uma corrente de cenários que agora associamos ao cinema e que parecia estar, antecipadamente, na posse de Büchner. (…) Büchner, desprezando a prática teatral corrente, ultrapassou-a: respondeu a uma estética que ainda não existia. Consideremos alguns pormenores. A peça não começa. Estas vidas já tinham estado a acontecer durante algum tempo: nós apenas nos juntamos a elas. A cena um não começa com o estabelecimento de tempo ou espaço – estes vão-se infiltrando à medida que avançamos – mas com o sentido da nossa entrada num cenário de vidas em progresso. (…) A peça ainda nem tem um minuto e já nós estamos completamente imersos nela. Nós, que vivemos num mundo imerso em cinema, conseguimos reconhecer o processo, usado aqui com um propósito excepcional. (…) Ao longo da peça, cenas longas e curtas, activas e introspectivas quase se atropelam umas às outras (…) A ideia da fusão de cenas através de mudanças de luzes e focos, algo muito familiar ao teatro de hoje – e, claro, ao cinema – era rudimentar num teatro que ainda não tinha, nem tinha sequer concebido, a iluminação eléctrica”.
Stanley Kauffmann, in “Büchner: A Revelation”

Nos Artistas Unidos:
2012A MORTE DE DANTON de Georg Büchner, encenação de Jorge Silva Melo (CCVF /TNDMII).