Nasceu nos arredores de Milão (Novate Milanese) em 1923 e morreu em 1993). Foi poeta, novelista, dramaturgo, historiador de arte, pintor e critico literário. Oriundo de uma família de profunda prática católica, Testori exprime em todas as suas obras uma forte ligação com a religião. O seu entusiasmo aparentemente contraditório com o escritor Manzoni e o pintor Caravaggio revela bem a dicotomia em que se move Testori, numa religiosidade feita de tensões, dúvidas, arrependimentos e sacrilégio. Licenciou-se em 1947 na Universidade Católica do Sagrado Coração (Milão) com uma tese sobre o surrealismo. Sob a influência do grande mestre Roberto Longhi inicia uma intensa actividade de crítica de arte, organizando exposições, publicando artigos sobretudo sobre a pintura lombarda do classicismo ao maneirismo. Mas também escreveu sobre pintores seus contemporâneos como Guttuso, Cassinari, Morlotti que seguia com atenção. É de 1954, o seu primeiro romance, Il Dio di Roserio (publicado na Einaudi) que viria a constituir o primeiro tomo dos Segredos de Milão que compõem Il ponte della Ghisolfa, La Gilda del Mac Mahon, La Maria Brasca, Il Fabbricone e o póstumo Nebbia al Giambellino. Nestas narrativas, Testori desenha o retrato da gente pobre que luta pela sobrevivência na periferia milanesa desses anos. E foi nesses textos que Lucchino Visconti foi buscar a fonte para Rocco e Os Seus Irmãos, que escreveu com Vasco Pratolini. A primeira incursão de Testori no teatro foi com L Arialda, em 1960, texto que provocou um enorme escândalo, acusado de obscenidade, devido à temática homossexual. A obra foi proibida pela censura e só no ano seguinte, após várias iniciativas que incluíram reuniões com o Presidente da República Italiana, foi dada autorização para ser representada no Piccolo Teatro di Milano, com direcção de Visconti e interpretação dos maiores nomes do teatro italano de então, os prestigiadíssimos Rina Morelli, Paolo Stoppa, Umberto Orsini, Pupella Maggio e Lucilia Morlacchi. Um elemento crucial na escrita de Testori é a utilização de uma linguagem original criada pela fusão do dialecto lombardo com importações do francês e do inglês. Foi assim nas três obras que compõem a Trilogia degli Scarrozzanti, (L’Ambleto (1972), Macbetto (1974) e Edipus). O autor desenvolve aqui uma incessante experimentação linguística, misturando elementos arcaicos e recordações dos originais clássicos com um forte expressionismo linguístico. Em 1977, sucedeu a Pasolini como cronista no jornal Corriere della Sera, de que virá também a dirigir a secção de artes. Com a morte da mãe, nesse mesmo ano (1977), Testori aproxima-se da religião e do grupo católico Comunhão e Liberdade. E escreve uma nova trilogia (Conversazione con la morte (1978), Interrogatório a Maria (1979) e Factum est (1981). Todo este processo de religiosidade trágica e conflituosa irá culminar com a adaptação cénica do seu romance In exitu que escreveu para o actor Franco Branciaroli (com quem trabalhou ininterruptamente) e na publicação dos Três Prantos (Cleopatras. Herodiades, Mater Mor Angustiosa). Paralelamente à sua actividade de escritor, Testori foi um interessante pintor, expondo regularmente até quase ao ano da sua morte.
Nos Artistas Unidos:
2012 – HERODIADES de Giovanni Testori, encenação de Jorge Silva Melo (Teatro da Politécnica).