HERODÍADES de Giovanni Testori Tradução Miguel Serras Pereira Com Elmano Sancho Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Video Actor Leandro Fernandes Imagem José Luis Carvalhosa Montagem Miguel Aguiar Produção Vânia Rodrigues e Andreia Bento Encenação Jorge Silva Melo
Agradecimentos: Re.AL, Galeria Graça Brandão, TNDM II, Teatro O Bando e Sonoplastia Rui Rebelo.
No Teatro da Politécnica de 11 a 26 de Janeiro de 2012
Três representações adicionais no Teatro da Politécnica a 24, 25 e 26 de Janeiro de 2012
No Teatro da Politécnica de 4 a 21 de Julho de 2012
MIRADA (Festival Ibero-Americano de Artes Cénicas de Santos, Brasil) 9 e 10 de Setembro de 2012
Então as orelhas
lhe havia de esfregar,
de esfregar e lamber,
e de tudo fazer
com o músculo da língua,
delas extraindo
a cera que – argamassa
de num ninho de andorinhas
e de andorinhaças –
lá se depusera
desde a última limpeza.
Giovanni Testori, Herodíades
Este é um dos três Prantos que, no final da sua vida intensa, escreveu Giovanni Testori (1923-93). Intensa variação sobre a morte de São João Batista e do desejo recalcado de Herodíades, é obra inclassificável, como o é o seu autor que agora revelamos em Portugal. Provavelmente, trata-se de um ajuste de contas, como ele mesmo disse, com a tradição de onde vinha, e de que nunca se afastara, o catolicismo. Quer a religião ingénua que a mãe lhe terá transmitido, quer a tumultuosa reflexão que os grandes artistas do barroco (e do barroco lombardo). Testori, o autor das novelas que deram origem ao Rocco de Visconti, o tradutor de Rimbaud e de São Paulo, foi um dos maiores inventores do teatro do século XX, propondo, no final da vida, uma reconciliação dramática entre a doutrina católica e o ardor sexual, o vitupério e a caridade, à procura do lugar “daquele que traz o escândalo”. E, estupefactos, ouvimo-lo no seu combate com a linguagem, com o corpo, com a nudez da cena, com o espectáculo de feira, com a pobreza. Nas origens e em continuidade de tanta arte que se faz e se fez em Itália, sulfuroso, paradoxal, transpirado, sujo, lírico e ordinário, um teatro indispensável.