IL CORTILE de Spiro Scimone

Il Cortile

IL CORTILE (O Saguão) de Spiro Scimone
Com Francesco Sframeli, Spiro Scimone, Nicola Rignanese Encenação de Valerio Binasco Cenografia e figurinos de Titina Maselli
Compagnia Scimone / Sframeli
Uma produção Scimone / Sframelli com as Orestiadi di Gibellina, Kunstenfestival des arts, Festival de Outono de Paris.

No Teatro Taborda nos dias 21, 22 e 23 de Abril de 2005

Apoio da Egeac e do Instituto Italiano em Lisboa

Num saguão cheio de imundícies, encontramos Peppe (Francesco Sframeli), Tano (o próprio Spiro Scimone) e Alguém (Nicola Rignanese).
Três homens que já não sabem o que é o tempo, mas ainda querem tanto viver.
Com os seus pequenos gestos, com a vontade de se ouvirem, com o prazer de brincarem. Porque naquele pátio interior ninguém lhes pode retirar o prazer de brincar. Naquele saguão, ainda podem recordar, ainda podem existir. O pátio interior é o lugar das suas brincadeiras de infância, onde tudo é permitido, onde tudo parece possível. Onde é possível inventar um mundo mágico, basta respeitar-lhe as regras. Aí vivem Peppe e Tano, dois desesperados, no meio do lixo, com ratos que lhes comem os pés. Não sabemos de onde vêm, nem que ligação têm. Claro que têm laços de parentesco com os involuntários heróis de Nunzio e Café.
Spiro Scimone

Il Cortile foi o vencedor do prémio Ubu para a melhor peça de teatro italiana em 2004.

Quatro anos depois de A festa, Scimone volta a surpreender-nos. Amadureceu um estilo seguro, facilmente reconhecível, onde é possível colocar as mais amargas perguntas da actualidade, as mais pequenas obsessões do dia-a-dia. Com um ritmo cómico que não abranda e que investe a velocidade incolor da linguagem de televisão. Cada um dos seus trabalhos – quarto em dez anos de actividade – conserva qualquer coisa do anterior e ao mesmo tempo tenta ultrapassar, colocar em situação o precedente. E assim alterna uma abstracção cruel com o realismo poético. A que não é indiferente a presença a seu lado de Francesco Sframeli, corpo cénico sobre quem se constrói uma parte bem consistente desta dramaturgia – que entretanto já se alargou ao cinema, com o filme Dois Amigos.

Uma terceira personagem surge de repente. Não tem nome, chama-se Alguém. Com ele entre um vento de concreto na cena, fala-se de uma mulher, fala-se de um emprego perdido. E a uni-lo aos outros dois, o mesmo gosto pelo jogo, a mesma vontade de viver. E a mesma necessidade de falar, de não perder a memória nem a palavra.

O saguão assemelha-se muito a um teatro. Onde tudo pode ser dito e onde se deve calar quem nada tem a dizer. Peppe e Tano têm consciência de que não estão sozinhos e que à sua frente, alguém os olha. É desse lugar mágico que eles nos falam acerca da responsabilidade que um artista tem perante um mundo que demasiadas vezes lhes parece desumano.

il_cortile_aEstas personagens surreais são tratadas com a maior naturalidade nas suas situações extremas, provocam em nós o maior espanto, mal começamos a ler a peça. Espanto que nos faz rir quando vemos no palco a maneira de dialogar de Spiro Scimone com o seu amigo de sempre Francesco Sframeli. E, no entanto, estamos num mundo trágico. Entre lágrimas e risos, naquela maneira que tinha o grande e amado irlandês Samuel Beckett em Fim de Partida ou Dias Felizes. Este saguão, que no teatro de Scimone veio substituir os quartos onde as personagens se protegiam das leis da mafia, representa um mundo que não é muito diferente do nosso. É um palco que se alterna com a chegada de um refugiado, ou um campo de concentração onde tudo é vigiado, e toda a liberdade banida. Sentimos a perseguição através de verbos conjugados na terceira pessoa, impessoais. Um estado policial à maneira de Kafka ou pior: em que os nossos gestos mais intimos são analisados, onde reina uma intolerância sintomática em relação aos mais fracos e onde as crianças prendem com cadeias os próprios pais. Os nossos heróis resistem a isto tudo, em nome daquele extraordinário poder de adaptação e infinita esperança que a humanidade sempre demonstrou ser capaz de ter.
Franco Quadri

Il Cortile foi estreado em 6 de Setembro de 2003 em Gibbellina com encenação de Valerio Binasco, cenografia de Titina Maselli, luz de Beatrice Ficalbi e interpretação de Francesco Sframeli, Spiro Scimone e Nicola Rignanese. O espectáculo vem a Lisboa com o apoio do Instituto Italiano e da Egeac e estará no Teatro Taborda em 21, 22 e 23 de Abril de 2005.

O Saguão , na tradução de Alessandra Balsamo e Jorge Silva Melo foi publicado no número 11 da Revista Artistas Unidos.