LEITURAS DE TEATRO NEERLANDÊS

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Num fim-de-semana alargado de leituras, juntaram-se seis textos de teatro contemporâneo holandês e flamengo, inéditos em português. As marcas da II Guerra, a crítica de teatro, os electrodomésticos, a sensação de perda, reencontros, soterramentos, um cão: preocupações diversas, várias gerações de autores, escritas distintas, da prosa ao verso, do monólogo ao elenco numeroso.
Judith Herzberg, Karst Woudstra e Esther Gerritsen estiveram presentes durante as leituras dos seus textos e participaram numa conversa com o público realizada no último dia. E saiu um número especial da Revista Artistas Unidos, com as traduções das peças. Tivemos a colaboração do Theater Instituut Nederland e do Vlaams Theater Institut.

Traduções de Lut Caenen e Lieve van Loock

O CALENDÁRIO

Sexta, 24
AMADOR de Gerardjan Rijnders lido por Diogo Dória, Isabel Muñoz Cardoso e Pedro Carraca
PERDA TOTAL (TOTAL LOSS) de Karst Woudstra lido por João Meireles, José Airosa, Manuel Wiborg.

Sábado, 25
DONA DE CASA de Esther Gerritsen lido por Cucha Carvalheiro
OS CASAMENTOS DE LEA de Judith Herzberg lido por Rogério Vieira, António Rama, Lídia Franco, Maria João Luís, Gracinda Nave, Carla Bolito, Elisa Lisboa, Joana Bárcia, Paula Diogo, Sylvie Rocha, Paulo Claro, Jorge Silva, João Saboga, Américo Silva.

Domingo, 26
Conversa com Judith Herzberg, Karst Woudstra e Esther Gerritsen
CONSTRUTOR(ES) DE TÚNEIS de Don Duyns lido por António Simão, Vítor Correia, Cucha Carvalheiro, Joana Bárcia, Paulo Claro.
O MEU BLACKIE de Arne Sierens lido por Miguel Borges, Rui Guilherme Lopes, Tiago Barbosa, Pedro Carraca, Cláudio da Silva, Pedro Gil, Joana Bárcia, João Meireles.

AS PEÇAS

Don Duyns
CONSTRUTOR(ES) DE TÚNEIS (1998) conta a história de um homem morre por negligência de terceiros. Conta também a história da mãe do construtor, do pai do construtor, da infância do construtor, da rapariga que quer salvar o construtor, do homem que conduzia o bulldozer que soterrou definitivamente o construtor, vozes várias que vão passando pela cabeça deste homem. Paralelamente passeiam-se personagens saídas da guerra do Vietname, uma psicóloga e jornalistas televisivos. Uma escrita com uma ironia desconcertante que consegue comover, numa peça em zapping constante a desafiar consecutivamente as convenções teatrais.

Esther Gerritsen
DONA DE CASA (Huisvrow, 1999) é uma reflexão insólita, divertida e surpreendente sobre o percurso sexual e amoroso duma mulher. A partir dos electrodomésticos, as batatas que se descascam, as imagens na televisão, os apresentadores, a publicidade e o cinema, esta mulher dá-nos bocados de si e de outras mulheres num texto por vezes seco outras vezes surpreendentemente poético, servindo-se do quotidiano prosaico em que se debate para fugir, fugir ao sabor das fantasias.

Judith Herzberg
OS CASAMENTOS DE LEA (Leedvermaak, 1982) é um mosaico de cenas normalmente muito curtas que mostram os encontros e desencontros de catorze personagens, durante uma festa de casamento. A acção tem lugar vinte e cinco anos depois da II Guerra Mundial, mas as suas consequências ainda se fazem sentir: a maior parte das personagens (entre noivos, pais, amigos, ex-cônjuges) é de origem judia. Muitas vezes, a escrita de Herzberg não anda longe de Botho Strauss, Woody Allen ou Tchekov.

Gerardjan Rijnders
AMADOR (Liefhebber, 1992), um crítico regressa de um espectáculo com a intenção de nunca mais voltar ao teatro. Enquanto desenvolve um monólogo amargo sobre a ausência de vida e realidade nos palcos, a sua família desintegra-se, sem que ele lhe preste a mínima atenção. Um texto sarcástico e cheio de humor negro.

Arne Sierens
O MEU BLACKIE (Mijn Blackie, 1998) fala do regresso de Mathieu ao espaço, entre o rural e o suburbano, onde passou a infância e a adolescência. Cenas breves, frases curtas, música, bebida, amores perdidos e reencontrados. E um cão, Blackie, que não abandona o palco. Uma peça para dez jovens actores.

Karst Woudstra
PERDA TOTAL (Total Loss, 1992) conta o último dia na vida de três homens carregados com um passado que vai sendo revelado à medida que a velocidade aumenta. Infâncias mal resolvidas, senilidade paternal, alcoolismo, suicídio, histórias que conduzem a um final que só pode ser igual para os três. Woudstra alterna monólogos e diálogos sem unidade de tempo e espaço, antes com uma permanente variação que vacila na fronteira entre a vida e a morte. “JEROEN: Dei-me conta de que estava caído no asfalto. Chovia. Não sentia dor. Pelo menos ao princípio. Só depois. Quando também ouvi vozes e uma sirene. Muito longe. Parece que sobrevivi, sobrevivi outra vez? E eles?”