MEGAPARSECS designa uma unidade de medida para uma área excessivamente grande, por exemplo, 10 milhões de anos-luz equivalem a 3 megaparsecs. Curiosamente, uma vez aí chegados, como o demonstra o filme intitulado Powers of Ten de Charles e Ray Eames, o infinitamente grande parece equivaler-se ao infinitamente pequeno, os enxames de galáxias parecem grãos de poeira cintilante no meio do negro.
MEGAPARSECS, é uma instalação de carácter escultórico que parte do espaço da sala negra do Teatro da Politécnica para criar uma certa noção de paisagem que convoca o tempo geológico e o espaço lumínico circundante exterior do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.
No Teatro da Politécnica de 5 de Setembro a 20 de Outubro
As principais linhas de força do meu trabalho poderiam ser reduzidas a três conceitos fundamentais: Paisagem, temporalidade e ligação com a terra. O primeiro tenta pensar a paisagem a partir da capacidade que tem para despoletar movimentos na consciência, isto é, uma espécie de fundo que impele ao movimento e pensamento constantes. A temporalidade interessa-me principalmente pela exploração de como o tempo se transforma em espaço, isto é, como é que a sucessividade se vai sedimentando em espaço plástico ou simultaneidade, como é que o movimento do fazer acompanha o movimento do pensar. E por fim a ligação com a terra, que é também um problema de ligação com o tempo geológico e com o absoluto que é a terra.
Samuel Rama, de uma entrevista ao JL
Samuel Rama (1977, Coimbra, Portugal) é um artista que não só divide a sua actividade entre a escultura e a fotografia como repensa constantemente a complexa história da intrincada relação histórica entre estes dois suportes.
E conhecido pelos seus objectos escultóricos feitos de terra – com que se apresentou, por exemplo, na edição de 2006 da exposição 7 Artistas ao 10º Mês (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa), naquele que foi o seu primeiro momento de assinalável exposição pública – e pelas fotografias que, subvertendo a escala de construções efémeras em locais desolados, nos apresentam paisagens simultaneamente bucólicas e inquietantes. Este fascínio por matérias como barro e pó, por locais como pedreiras e minas abandonadas, ou por estaleiros desactivados, liga-se a um interesse por aquilo a que o artista chama «tempo geológico». Este tempo não podia estar mais longe da acepção mais vulgar de fotografia, que assumimos distinguir-se pela capacidade de congelar momentos. Em entrevista recente, Samuel Rama e esclarecedor quanta a este ponto: «Até mesmo quando utilizo a fotografia, que e a arte do instante, faço-o com instantes muito alargados. Não tenho nenhuma com menos de trinta segundos de exposição e tenho algumas que chegam a ter horas.»O seu processo de trabalho com a fotografia articula-se entre meras descobertas e intervenções; varia entre o assumir de estruturas encontradas como escultura, pouco modificando a realidade preexistente, simplesmente registando-a – assumindo, no fundo, que qualquer coisa que exista na terra pode considerar-se uma peça escultórica -, e a construção de determinados objectos propositadamente para os fotografar – mas que nunca chegam a ter uma existência autónoma enquanto esculturas. O artista confronta-nos desta forma com duas questões: em primeiro lugar, como é que a realidade se pode tornar escultura; em segundo, e visto que a existência das suas construções efémeras como maquetas e sempre denunciada por ligeiras desproporções entre elementos, que relação existe, afinal, entre representação fotográfica e realidade.
Note-se que, em ambos os casos, a fotografia nunca e encarada enquanto simples documentação, ou como relíquia de um acontecimento – naquilo que distingue estes projectos dos registos de acções e performances que marcaram os anos de 1960-1970. As imagens de Samuel Rama só são possíveis graças à colaboração da fotografia enquanto médium com determinada história, enquanto verdadeira ferramenta de pensamento.
Ricardo Nicolau