MOUCHETTE/COLETTE de Arne Sierens

Mouchette/Colette

MOUCHETTE/COLETTE de Arne Sierens
Versão Jorge Silva Melo Com Joana Bárcia, António Simão e a voz de Isabel Muñoz Cardoso Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves , Rosa Gonçalves e José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Som André Pires Encenação Pedro Carraca com a colaboração de Gracinda Nave e Jorge Silva Melo Colaboração no movimento de Filipa Francisco
Uma produção DAS THEATER /Artistas Unidos

Estreia Voruuit, Gand (Bélgica) 24 de Maio de 2002
Salão da Voz do Operário, 15 de Novembro de 2002

O texto está publicado no volume O MEU BLACKIE E OUTRAS PEÇAS (Ed. Campo das Letras)

MOUCHETTE (Mouchette, 1990): Esta foi a peça que ajudou a lançar Arne Sierens junto de um público mais vasto. Inspirada, e com o objectivo de homenagear o filme homónimo de Robert Bresson, mas com uma narrativa própria, esta peça conta-nos a história da relação entre Arsénio, um “tipo bizarro”, homem abandonado pela sua mulher, e Colette, uma rapariga de 14 anos. No bairro onde vivem todas as casas são parecidas. Uma rapariga sozinha, a mãe doente, as mentiras da menina. E um homem que roda a casa e volta todos os dias. Uma amizade nasce entre o homem marginalizado e a menina sozinha, uma fascinação. E há um vestido de sevilhana para o fim, um vestido como deve ser, encarnado com bolas brancas, folhos nos ombros.

“Sempre disse: ‘Escrevo metade de histórias’, são histórias incompletas. O público deve adicionar-lhe a sua própria história. Juntas elas fazem o teatro. A sugestão é muito importante. Não convém dar muito. O que gosto em MOUCHETTE é que há uma espécie de felicidade e desespero ao mesmo tempo. É negro e há humor. (…) Arsène e Coulette são dois cães, é um combate de boxe com os seus próprios instrumentos. É uma linguagem quotidiana da rua, mas a forma é teatro puro, um ringue… O público deverá sentir qualquer coisa do tipo Aaaah, isso não é muito simpático…! É a vida!” Arne Sierens

“Arne Sierens descreve o seu processo de trabalho como “realismo transcendental”, termo emprestado de um livro de Paul Schrader sobre Ozu e Bresson, os seus dois grandes modelos. (.) Em vez de interpretar, Sierens tenta captar o homem na sua nudez. Na redução, ele revela as linhas principais, contando por meio do detalhe e buscando o essencial. O teatro é antes de tudo a evocação de emoções e não o despejar de conteúdo.”
in Arne Sierens: Kritisch Theater Lexicon, Vlaams Theater Instituut, 2001

“Em MOUCHETTE, Sierens consegue agregar arquétipos nas duas personagens. Cada personagem congrega em si numerosas personagens. (…) Ao contrário de Bresson, Sierens concentra-se mais nas estratégias de sobrevivência e fuga das suas personagens de classe baixa do que na sua miséria. Para o fazer, a música desempenha um papel importante.”
in Arne Sierens: Kritisch Theater Lexicon, Vlaams Theater Instituut, 2001

mouchette_b“Ao longo dos anos Sierens tem vindo a precisar de cada vez menos linguagem para contar as suas histórias. As suas peças têm-se tornado textos físicos que, em certos casos, de pouco texto necessitam para exercer um forte efeito de acção sobre o público.”
in Arne Sierens: Kritisch Theater Lexicon, Vlaams Theater Instituut, 2001

“As suas peças não apresentam uma fatia da realidade, mas transcendem-na constantemente. O que resulta é uma metáfora, que nunca perde a sua relação com o banal.”
Griet Op De Beeck, in Etcetera, vol.15, nº 61, 1997, p. 52-54

“O teatro de Sierens permanece um teatro de pobreza nos dois sentidos da palavra: sensível ao mundo das suas personagens da classe trabalhadora e às suas estratégias de sobrevivência, e, ao mesmo tempo, procurando uma expressão teatral que passe por imagens destiladas e palavras acumuladas em novas camadas.”
in Arne Sierens: Kritisch Theater Lexicon, Vlaams Theater Instituut, 2001