NA SELVA DAS CIDADES de Bertolt Brecht

Na Selva das Cidades

NA SELVA DAS CIDADES de Bertolt Brecht
Tradução Jorge Silva Melo com a colaboração de José Maria Vieira Mendes
Com Américo Silva, António Simão, Bruno Bravo, Gracinda Nave, Hélder Bráz, Joana Bárcia, João Meireles, Joaquim Horta, Jorge Silva Melo, Luís Gaspar, Miguel Borges, Paulo Claro, Pedro Carraca, Rogério Vieira, Teresa Roby, Henrique Félix, e João Santos Cenário e figurinos Rita Lopes Alves Assistência de cenografia Ana Paula Rocha Assistência de figurinos Lucha d´Orey Execução de cenários José Manuel Reis Serralharia Gabriel Martins Execução de guarda-Roupa Olga Amorim Penteados Victor Hugo Luz Pedro Domingos Direcção de produção Catarina Saraiva Produção executiva Teresa Couto Pinto Secretariado de produção Ivone Costa e Ana Bustorff Silva Direcção técnica José Rui Silva Assistência técnica e operação de luz Ulisses Cena Contra-regra Bruno Campos Fotografia Jorge Gonçalves Encenação Jorge Silva Melo assistido por Isabel Muñoz Cardoso, João Meireles e Pedro Carraca

Estreia Teatro da Comuna, 4 de Fevereiro de 1999.

O texto está publicado em Teatro I de Bertolt Brecht (Edições Cotovia).

Estão em Chicago, 1912. Verão a inexplicável luta corpo a corpo entre dois homens. Assistirão ao naufrágio de uma família que veio das savanas para a selva da grande cidade. Não partam a cabeça para descobrir as razões deste combate, procurem sim participar das jogadas humanas. Julguem com imparcialidade os métodos de luta dos adversários e dirijam a vossa atenção para o último round.
Bertolt Brecht

Na minha peça, este puro prazer da luta deveria ser examinado. Quando fazia o esquema, apercebi-me desde logo de que era particularmente difícil conduzir e manter uma luta sensata, que, segundo a minha visão de então, seria uma luta que provasse qualquer coisa. Tinha cada vez mais uma peça sobre a dificuldade de conduzir uma tal luta. As personagens principais encontravam este ou aquele meio para alcançarem qualquer coisa a que se pudessem agarrar. Escolhiam, como campo de batalha, a família de um dos lutadores, o seu local de trabalho e por aí fora. Também era “ocupada” a propriedade do outro lutador (e, assim, sem o saber, aproximava-me bastante da verdadeira luta que estava de facto a acontecer e que eu apenas idealizava: a luta de classes). No final a luta acabava por se revelar aos contendores como um mero boxe de sombras; também enquanto inimigos a sua aproximação não era possível. No crepúsculo sobressai uma descoberta: que o prazer da luta no capitalismo tardio já só é uma deformação selvagem do prazer da competição. A dialéctica da peça é puramente idealista.
Bertolt Brecht,
“Revendo as minhas primeiras peças”

Para o jovem Brecht (como para o jovem Godard ou o jovem Álvaro Lapa e antes de todos eles o jovem Berlioz) o teatro (o cinema, a pintura, a música) nasce da literatura.
[…]
A palavra não serve aqui, como em muito do teatro que lhe veio a suceder , para descrever situações, engendrar acções, criar climas, analisar psicologias. Não serve o pequeno-almoço à personagens. É. Comparem-se as cenas de família de Na Selva com as de A Morte de Um Caixeiro Viajante de Arthur Miller (e vários são os pontos de contacto destas duas reacções à presença obssessiva da Grande Cidade) e veja-se como neste texto de Brecht a palavra é o próprio centro. […]
Parecia impossível que A Cidade coubesse num palco. Pois não era o teatro lugar para um sofá e um armário, amores, desamores e um pouco de tosse? Mas, tal como os pintores da Neue Sachlichkeit rompem com os banhistas e os lagos, as ruas de prazer e os interiores voluptuosos dos Fauves, o gesto de Brecht e dos seus amigos é o de rebentar com o teatro. Certos de que o teatro não vem do teatro e que de nada serve que para o teatro vá.
Jorge Silva Melo
Janeiro 1999

Peça impressionante em cenário underground, é tão claustrofóbica que chega a amedrontrar-nos. É de teatro físico, onde as palavras vibram e nos trespassam a alma, que se trata. Numa irreversível tensão que nos sufoca. A não perder… para quem gosta de emoções fortes.
Rita Bertrand, Semanário,
Março 1999