NATURA MORTA IN UN FOSSO de Fausto Paravidino

Natureza morta numa vala

NATURA MORTA IN UN FOSSO (Natureza Morta Numa Vala) de Fausto Paravidino
Encenação Serena Sinigaglia Luzes e cenografia Nicolas Bovey Intérprete Fausto Russo Alesi Tradução de Teresa Bento
Produção A.T.I.R.
Teatro Juvarra di Torino

Teatro Taborda. 7 de Julho às 21h30 e 8 de Julho às 18h30

Fausto Paravidino, vencedor do Prémio Ubu e Coppola-Prati, revelação da nova dramaturgia italiana, nesta sua nova e fulgurante peça para um actor em ascensão (Prémio da Crítica 2002), faz desfilar as histórias reais e junta-as com maldade, sem forçar, com um olhar analítico, curioso e desencantado, rigoroso e irónico. Natureza morta numa vala é um policial que se desenrola em ritmo cerrado, sem deslizes até à solução do mistério, um fragmento da delirante violência que preenche todos os dias da nossa vida.

A investigação de um homicídio que a imprensa definiria “atroz”, levada à cena por um único actor, intérprete de todas as personagens envolvidas. Testemunhas e indiciados, os pais e o inspector de polícia encarregado das investigações, sucedem-se no palco sem uma solução de continuidade e dão vida a um verdadeiro policial, mantendo alta a tensão entre o público.

Um género difícil de realizar em teatro que, todavia, encontra no autor, na encenação e no intérprete três óptimos e afinados executores. Paravidino, jovem dramaturgo que escreveu o texto a pedido de Sinigaglia e de Alesi, consegue caracterizar cada uma das personagens, evitando os estereótipos e as caricaturas e dando a cada uma delas espessura e humanidade com poucas e eficazes pinceladas.

Homens e duas mulheres – a prostituta imigrante que permitirá a resolução do caso e a mãe da jovem assassinada – que são o resultado de uma exploração não pré-condicionada da realidade, norteada por aquela mesma sensibilidade que permite a Russi Alesi encontrar os acentos, os movimentos, os tiques, as deformações dos músculos faciais que imediatamente dão vida às várias personagens – cerca de dez. Apenas a vítima – Elisa, uma rapariga de vinte anos – e o seu insuspeitável carrasco não têm a possibilidade de exprimir o ponto de vista deles. Tal como acontece na realidade, os jornalistas e “especialistas” esfalfam-se em reconstruir existências e sentimentos, se calhar desconhecidos até para os próprios interessados.

O espectáculo, de facto, não é e não quer ser apenas um policial com o mecanismo perfeito, mas a denúncia, apesar de tudo avessa aos moralismos fáceis e ao tom de sermão, da superficialidade que domina a sociedade e que atinge quer as relações pessoais, até as mais próximas – aquelas entre pais e filhos – quer a visão vulgarmente aceite dessa mesma realidade.

O texto avança sistemático como uma pesquisa científica e nunca hesita em fornecer os pormenores patéticos capazes de levar à comoção fácil: também os monólogos da mãe da vítima – um dos momentos mais altos do espectáculo – em vez de comover quase enregelam o espectador quando revelam a crua realidade da estranheza entre as duas mulheres. O inspector que em vão procura as provas para confirmar a sua hipótese de alguma forma mais animadora – um delito perpetrado num ambiente de “pequenos marginais” e portanto distante do dia-a-dia normal de cada um de nós – explicita bem o desejo de afastar de si próprio a violência e o mal e que leva a querer saber tudo para não conhecer a verdade mais verdadeira, a ouvir análises rebuscadas acerca das razões de comportamentos não vulgares para evitar prestar atenção em quem está ao nosso lado. Uma técnica para sobreviver à loucura que receamos tome conta de nós e que na realidade ajudamos a criar.

A encenação concretiza e amplifica a dolorosa consciência desse fenómeno que domina a peça. Paravidino, unindo ironia, sensibilidade, domínio dos mecanismos teatrais e uma maturidade conquistada, consegue vencer a autoreferencialidade que limitava o fôlego das suas primeiras experiências dramatúrgicas. Uma menção especial vai porém para Fausto Russo Alesi (dirigido por Eimuntas Nekrosius em A Gaivota de Checov), jovem actor, de indubitável profissionalismo, ágil e ecléctico, e sobretudo dotado de sensibilidade e inteligência interpretativas invulgares. Um espectáculo a não perder.
Laura Bevioni
Drammaturgia.it

“Natureza Morta numa Vala”, a fascinante peça do jovem Fausto Paravidino dirigida por Serena Sinigaglia para o talento histriónico de Fausto Russo Alesi, é um puzzle asfixiante cujas peças se juntam numa narrativa densa que prende o espectador na sua cadeira.
A peça de Paravidino tem as características de um filme negro magistralmente narrado, graças à finura do seu foco, às caracterizações linguísticas e psicológicas das personagens e à sua fascinante construção dramática. Fausto Russo Alesi volta de novo a afirmar o seu talento excepcional e a sua extraordinária maturidade como actor. Alesi é muito apoiado pela direcção de Serena Sinigaglia, que amplifica o impacto evocativo deste texto tecido com grande saber.
Mario Brandolin, Il Messaggero Veneto, 27/3/2002

“Natureza Morta numa Vala” é um crime suburbano contado pelas vozes do polícia, dos traficantes, da mãe da vítima, testemunha, prostituta. Fausto Russo Alesi é extraordinário nestes 90 minutos de representação a sós. Entre a piedade e a caricatura, o actor interpreta as diferentes personagens, questiona-as, despe-as, enlouquece, ou fere. As estranhas sombras da vida que a encenadora Serena Sinigaglia juntou transformam este espectáculo numa das mais fortes experiências da temporada.”
Roberto Canziani, Il Piccolo, 24/3/2002

“Um jovem actor extraordinariamente poderoso, capaz de criar estratos psicológicos, caracterizações, personagens inteiros, com pequenos traços, e uma identificação física e emocional. Um drama contemporâneo, um fantástico actor, um muito jovem autor: uma verdadeira alegria.”
Valeria Ottolenghi, Gazzetta di Parma, 20/3/2002

A feliz reunião de talentos da última geração teatral. Uma crónica pormenorizada de um facto real mas contada de maneira imprevista: a encenadora Serena Sinigaglia transformou os monólogos das seis personagens e conferiu-os a um só actor, o excepcional Fausto Russo Alesi: capaz de mudar de personalidade, dialecto e sexo mudando apenas algumas peças de roupa sem se disfarçar, com um ritmo poderoso e agressivo e sem exagerar a caracterização das personagens. O protagonista mereceu um sucesso triunfal.”
Franco Quadri, La Repubblica, 6/10/2001

Três jovens talentosos contra a Little Italy. Um espectáculo triunfal e nunca banal que confirma o talento de três jovens: o autor, o actor e o encenador.”
Magda Poli, Corriere della Sera, 4/10/2001