O NAVIO DOS NEGROS de Jorge Silva Melo (a partir de motivos de Herman Melville)

O Navio dos Negros

O NAVIO DOS NEGROS de Jorge Silva Melo
Com Ivo Canelas, Paulo Claro , Miguel Borges, João Meireles, Américo Silva, Pedro Carraca, Rui Guilherme Lopes, Cláudio da Silva, João Saboga, António Simão, Gustavo Sumpta, Hugo Samora, Tiago Barbosa, Sérgio Gomes, Nelson Cabral, Daniel Martinho ou D. Petro Dikota, Vítor Correia Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves, Isabel Nogueira e Ana Paula Rocha com a colaboração de José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Encenação Jorge Silva Melo assistido por Isabel Muñoz Cardoso, Gracinda Nave, e Rui Guilherme Lopes Uma produção Culturgest-Grupo CGD / Artistas Unidos

Estreia Grande Auditório da Culturgest, 29 de Junho de 2000

O texto foi publicado nas Edições Cotovia

NAVIO DOS NEGROS: A partir de motivos da novela Benito Cereno de Herman Melville, Jorge Silva Melo escreveu um texto para os actores dos Artistas Unidos. No ano de 1799, o capitão Amasa Delano, comandando um navio equipado para a caça da foca e comércio em geral, ancorou com importante carga no porto de Santa Maria situado na extremidade meridional da longa costa do Chile. Aportara aí para se abastecer de água. No segundo dia, pouco depois da madrugada, o imediato veio informá-lo que entrava na baía um veleiro estrangeiro. Nesta época os navios não eram tão frequentes em tais paragens como hoje. Levantou-se, vestiu-se e subiu ao convés. Tudo estava calmo e silencioso, cinzento. 0 mar parecia congelado e a sua superfície lisa como chumbo derretido. 0 céu dir-se-ia um manto cinzento. Bandos cinzentos de pássaros misturavam-se com rolos cinzentos de nuvens inquietas e brincavam com elas, aflorando as águas num voo caprichoso e baixo, como andorinhas que rasam as planuras antes da tempestade. Sombras presentes pressagiavam outras sombras futuras e mais densas.

“O que me interessa é o irrepresentável. A literatura. E aqui o irrepresentável (a literatura) é o mar e o terror. Se pudesse dedicar este espectáculo a um mestre seria a Benjamin Britten, que fez entrar o mar e o vento nos palcos do século XX. Quero falar do terror, da escravatura, dos escravos que nos chegam agora do Leste para a construção civil e dos Negros que constroem expos e estradas nos terrenos de Schengen. Do mar e do vento. Outro mestre: Courbet.”
Jorge Silva Melo