O PALCO E AS SOMBRAS de Jorge Gonçalves

O Palco e as Sombras

O Palco e as Sombras – fotografias de Jorge Gonçalves
Galeria Municipal de Almada
19 Maio a 30 de Julho de 2005
No Convento das Mónicas a partir de 10 de Abril
Teatro Malaposta 14 de Fevereiro a 16 de Março de 2008

Jorge Gonçalves ou Num Piscar de Olhos

Nas fotografias de Jorge Gonçalves existe algo capaz de acariciar, acarinhar, apaixonar os olhos: a inocência.

Ao olhar para a sua maneira de capturar o espaço, os rostos, os objectos do teatro, mais próximos da vida quanto mais longe dela, fica claro que esses rectângulos de papel fotográfico não são retratos das coisas que nos rodeiam: Jorge Gonçalves gosta de agarrar nas coisas, mordê-las, engoli-las e devolvê-las novas, de novo, perfeitamente antigas como o passado e vibrantemente presentes como a memória. Isto chama-se inocência: as expressões nos rostos dos actores, a luz e os escuros de que esquecemos a proveniência, a profundeza do espaço que não deixa de revelar pormenores têm mais a ver com um piscar de olhos puro, absoluto, inconsciente, do que com uma sabedoria mecânica, uma construção de geometrias instantâneas. O que essas fotografias conseguem fazer, é devolver com potência a vida à carne, os pensamentos aos olhos, os instintos às mãos. Para quem é fotografado, é mais que estar nu. Para quem vê as fotografias, é muito mais que ver retratos cénicos.

Não é uma arma que rouba a alma, a máquina fotográfica do Jorge. É mais um par de óculos discretos, que pedem emprestada a alma, e que fazem dele um espectador leve, um confessor de segredos, e de nós, espectadores, testemunhas do infinitamente pequeno: uma certa posição das mãos, uma maneira pessoal de entreabrir os lábios, um brilho em dois olhos perdidos para sempre mas nunca mais esquecidos. O infinitamente pequeno que num piscar de olhos se torna aquela pessoa mesmo, a sua essência, a sua memória: palavras na pedra.
Letizia Russo