OS IRMÃOS GEBOERS de Arne Sierens
Tradução Lut Caenen e Filipe Ferrer Com Cláudio da Silva, António Simão, Camacho Costa, Fernanda Montemor e João Saboga Cenografia e figurinos Rita Lopes Alves, Isabel Nogueira e José Manuel Reis Luz Pedro Domingos Encenação Jorge Silva Melo com a colaboração de Pedro Marques
Estreia Espaço A Capital/ Teatro Paulo Claro, 20 de Setembro de 2001.
O texto está publicado no volume O MEU BLACKIE E OUTRAS PEÇAS (Ed. Campo das Letras)
OS IRMÃOS GEBOERS (De broers Geboers, 1998): Dois irmãos, o pai fraco, o amante russo da mãe. Na Europa de agora, com os nazis manifestando-se, os russos que chegam depois da queda e se organizam em mafias. E os desejos e o sexo adolescente. E a avó. E que foi feito dos operários? Esta peça foi escrita para a segunda produção de Sierens e Johan Dehollander no Nieuwpoorttheater. Para a sua escrita, Sierens partiu de conversas com membros do famoso grupo Bende van de Kat (Gang do Gato), motards de Gent que nos anos 50 andavam pela Veldstraat em formação compacta. O chefe do gang, o Gato, enforcou-se na prisão. Escrita antes do começo do início da produção, Sierens escolhe (aparentemente) uma forma externa clássica: um texto para teatro em actos. Só que aqui a forma não é imitada, apenas citada. Tudo o que acontece, acontece por trás, fora do palco, nas palavras, no ouvido e não à vista.
“O que quero mostrar nas minhas peças não são fatias da vida. Não, é toda a vida”
Arne Sierens
“Claro que os irmãos Geboers são completamente idiotas, mas eu também sou assim. São a minha tribo. Tenho de viver com isso. De que posso eu acusá-los? De votarem na extrema direita? Mereciam que lhes rebentássemos a cabeça, mas eles não compreendem a consequência das suas próprias acções. E é óbvio que corre mal.” Arne Sierens
“Os dois irmãos tentam desesperadamente fugir ao seu destino. Durante estas tentativas de sobrevivência, transformam-se, tornam-se, como todas as figuras importantes no teatro de Sierens, santos, levitam. O trauma familiar é herdado como uma ferida que nunca sara, mas os irmãos não se afundam como numa tragédia, resistem e não se deixam afectar por acontecimentos dolorosos. Não se deixar afectar é não querer ir abaixo, é tentar ficar de pé. O teatro de Sierens permanece um teatro de pobreza nos dois sentidos da palavra: sensível ao mundo das suas personagens da classe trabalhadora e às suas estratégias de sobrevivência, e, ao mesmo tempo, procurando uma expressão teatral que passe por imagens destiladas e palavras acumuladas em novas camadas.”
in Arne Sierens: Kritisch Theater Lexicon, Vlaams Theater Instituut, 2001
“Há algo de apocalíptico na escrita tetaral de Sierens. Não porque ele projecte as suas personagens num futuro mais ou menos fatal. Antes porque as suas peças nascem de uma espécie de naturalismo ampliado cada elemento é,d e uma só vez, presente e excessivo, preciso e barroco. E existe na fronteira instalável entre um ruralismo cru e um urbanismo cinzento”
João Lopes. Diário de Notícias, 13 de Outubro de 2001