RÁDIO CLANDESTINA de Ascanio Celestini

Rádio Clandestina

RÁDIO CLANDESTINA
Roma, Valas Ardeatinas, Memória
Escrito, dirigido e representado por Ascanio Celestini
Música Original de Matteo D’Agostino

Teatro Taborda, 12, 13 e 14 de Julho de 2005
Integrado no Festival de Teatro de Almada
Apoio da Egeac

Uma mulher aproxima-se e pede a alguém que lhe leia uns placards onde está escrito “aluga-se” e “vende-se”. É iletrada. Alguém diz “Hoje em dia pessoas como a senhora são raras, mas durante a guerra havia muitas pessoas que não sabiam ler nem escrever. E muitas delas iam ao cinema do meu avô Giulio, perto da Porta Pia, o Iris, para que lhes lessem as proclamações dos Alemães que vinham nos jornais.”

Baseado em L’ordine è già stato eseguito (A ordem já foi cumprida) de Alessandro Portelli

radio_clandestina_bEm Março de 1944, a proclamação que lhes leram anuncia a morte de 320 pessoas: o massacre das Valas Ardeatinas. “A carnificina nas Valas Ardeatinas é uma história que se pode contar num minuto ou numa semana.” É uma história que começa no século dezanove, quando Roma se torna capital da Itália, e continua durante os anos seguintes quando são construídos os bairros de periferia, depois em África e na Espanha, nas leis anti-semitas de 1938, na Segunda Guerra Mundial, no bombardeamento de San Lorenzo e chega até ao armistício de 8 de Setembro de 1943. É a história da ocupação alemã, mas não acaba com a Libertação de Roma. É a história de homens enterrados debaixo de toneladas de terra numa pedreira na Via Ardeatina e das mulheres que vão à procura deles, as mulheres trabalhadoras dos anos Cinquenta, e dos filhos e netos que ainda contam a história.
23 de Março de 1944: Os Grupos de Acção Patriótica de partisans atacam uma coluna de polícias Alemães na Via Rasella.
24 de Março de 1944: Em resposta, os Nazis executam 335 pessoas numa pedreira na Via Ardeatina.
25 de Março de 1944: Nos jornais de Roma está escrita a proclamação Nazi que denuncia a acção partisan e o massacre que se seguiu.

Contada assim, parece ser uma história que começa num dia e termina dois dias depois; uma história que dura algumas horas apenas. Mas um livro premiado de Alessandro Portelli (Prémio Viareggio), L’ordine è già stato eseguito, coloca-a no meio dos nove meses de ocupação Nazi de Roma, e depois dentro dos cinco anos de guerra, e vinte anos de Fascismo; na história oral de uma Roma que foi feita capital de Itália e começa a mudar rapidamente. O livro é baseado em 200 entrevistas e testemunha o facto de que não é uma história de três dias mas sim uma coisa viva, ainda reconhecível como parte da memória de toda uma cidade.

O primeiro estudo para um projecto mais alargado sobre a tradição oral e memória do massacre das Valas Ardeatinas for apresentado de 31 de Outubro a 3 de Novembro na cela nº11 na antiga prisão Nazi em Roma (Via Tasso), agora Museu da Libertação, como parte do programa I Luoghi della Memoria (Lugares da Memória), organizado pela Cidade de Roma e o Teatro de Roma.