Uma introdução ao trágico pelo Professor Dr. José Pedro Serra
No TNDM II a 2 de Março de 2010
Foi em Atenas, no século V a.C., embora as suas origens recuem ao século VI a.C., que a tragédia se afirmou como uma das mais poderosas realizações do espírito, constituindo um dos principais legados da Grécia antiga. Tragédia e trágico são termos de extensão indomável, tal a diversidade de sentidos que arrastam e a densidade de universos que evocam. A partir do momento em que os gregos inventaram as representações trágicas, muitos foram ao longo do tempo os que, dela a seu modo se apropriando, reconheceram na tragédia a mais grandiosa e sublime forma de expressão literária. Os séculos XIX e XX assistiram a um poderoso regresso do trágico; neste passado recente, não poucos foram os homens que reconheceram na tragédia o desenho do traço que melhor e mais autenticamente diz a nossa humana condição, as nossas mais agudas e agrestes dores, as nossas alegrias mais puras e heróicas.
Reler os tragediógrafos gregos, ÉSQUILO, SÓFOCLES e EURÍPIDES, significa, então, não apenas regressar ao momento histórico em que a cosmovisão trágica foi esculpida, mas, mais importante, retomar e habitar perguntas que ainda nos envolvem e decisivamente nos dizem. Neste olhar para o trágico dirigido encontram-se palavras antigas e perplexidades modernas, ecos em que os tempos se misturam.