Um trabalho de Filipa Francisco
Coreografia Filipa Francisco Interpretação Joana Bárcia, Paula Castro, Jorge Cruz e Francisco Campos Figurinos Isabel Peres Banda Sonora Ricardo Freitas Luz José Rui Valadares
(uma produção Eira/Centa/Artistas Unidos acolhida no Espaço A Capital a 20 de Junho de 2001)
RISO vem no percurso de pesquisa e apresentação de espectáculos de Dança-Teatro. Como Criadora e intérprete tenho-me questionado sobre as fronteiras que ligam e dividem estas duas áreas. Em trabalhos anteriores como “Nu Meio” (prémio Bienal de Jovens Criadores, apresentado em Turim);” Nariz Do Meu Pai” (Danças na cidade e “Mostra de Dança Portuguesa em ,Frankfurt); “There I Stand”(ciclo sobre o expressionismo, na Culturgest); “Transgarden”(Festival X, Lisboa) e “Petróleo”(espaço da Companhia Sensurround, Lisboa) utilizei a criação de textos originais encontrados através de improvisações temáticas. Nesta peça decidi convidar um elenco de actores e bailarinos que pudessem levar mais longe a criação de textos e personagens absurdas e de humor negro. Interessa-me criar uma fisicalidade essencial, um acting directo, jogos de repetição, loopings, paragens, vozes em risco de se desfragmentar, pessoas e corpos desfocados, numa linguagem que não fale apenas do corpo, mas do seu mundo.
“Riso” é um laboratório em progresso que teve como espaço de residência O Centa (Centro Experimental de Novas Tendências Artísticas), em Vila-Velha de Rodão e o espaço d´a Capital. Durante três meses este tema serviu de motor para a criação.
Porquê este tema? Sempre me interessou explorar o humor e a energia espontânea que existe em situações absurdas ou descontextualizadas. Lembro-me de realizar o espectáculo ” Nu Meio” e no final , uma das crianças que assistia disse. “Oh mãe , isto não é Dança, isto é para rir”.
Henri Bergson no seu livro “O riso” diz que “será sempre motivo de riso um orador cujos mais belos períodos sejam entrecortados pela dor de um dente estragado. De onde vem o cómico desta situação? De a nossa atenção ser bruscamente reconduzida da alma para o corpo”.
Nesta peça as personagens reconduzem o olhar para o corpo, um corpo embaraçado pelo seu peso, pela sua performance, desfocado pelas palavras, manipulado pelos outros, exposto. Um corpo como paisagem do ridículo. Falar deste corpo é falar do corpo na nossa sociedade, cada vez mais manipulado, objecto de obrigatoriedades, interdições, higienizado, modelado. È falar também da exposição do actor, de um teatro dentro do teatro que explora o humor e a ironia da relação autor/actor/espectador.
A peça não surge como uma paisagem da felicidade, pelo contrário ao abordar este tema o que veio á superfície foram todas as suas contradições.O que veio à tona foi a imagem do homem que tropeça e cai e por isso é motivo de riso, porque por momentos perdeu toda a sua compostura.
Esta não será uma peça para rir, nem um manual sobre o riso, antes será uma peça…. à beira …de …um…ataque…de ….riso?
Filipa Francisco