SEGUNDA COLINA pintura de Ivo
Os trabalhos da exposição relacionam-se com vestígios de pautas musicais, cadernos de duas linhas e outros registos. Marcas que estarão associadas a afirmacões do Tempo e do Espaco. A exposição será constituída por quadros de médias e grandes dimensões e uma escultura. Nesses trabalhos haverá uma preocupacão de sobrepor diferentes registos, associando ou contrapondo marcas, como hipotéticas plantas de cidade (ocupacão do homem), palavras (associadas a uma memória pessoal e/ou colectiva) etc., mostrando uma pluralidade de intenções.
Ivo
Maio de 2006
No Convento das Mónicas, 12 de Outubro de 2006
Em Tavira, no Palácio da Galeria a partir de 13 de Janeiro de 2007
SOBRE O TRABALHO DO ARTISTA
Ivo Silva nasceu em Lisboa, onde frequentou a Escola de Belas-Artes. Comecou a expor em 1983. Uma presença impositiva nos quadros de Ivo Silva é conseguida pela atencão concedida pelo pintor à globalidade da imagem e ao tratamento do suporte. Tal presença não é conseguida nem pela gestualidade enérgica da execução nem pela alusão figurativa, apesar de o pintor tirar partido do tradicional hábito de procurar representações de objectos e de paisagens nas pinturas. As linhas podem adensar-se em zonas simétricas do suporte, mas raramente se cruzam de igual modo. Se se fecham em simulacros de contornos de objectos, estes permancem inidentificados. A procura insistente obtem dados insólitos, como montanhas cor de sangue, vales estranhos; armações metálicas que podem erguer-se no horizonte, mas que podem também glosar o emolduramento da própria pintura; linhas que convergem não numa perspectiva central estática, mas lateral, vertiginosa; na brecha dos planos frontais, indefinidas formas orgânicas estiram-se molemente. Entre a construção rígida de espacos e a flutuação de manchas amorfas, a matéria pictural vibra, entregue a múltiplas leituras. A sua presença física densa é necessária para as metamorfoses e metáforas experimentadas. Ivo pensa enquanto coloca, arrasta e arranha estas matérias cromáticas. Todas as ambiguidades da função da cor são exploradas. Incrustada na matéria, transmutadas em luz, situada como objecto ou como mero reflexo, a cor de Ivo, sendo Expressionista, não é, porém, directa. «Penso em termos de forças e formas implosivas, capazes de energia concentrada», diz ele. «Estou preocupado com a superfície, como pele que cobre o corpo da pintura. Procuro a textura áspera, porque acredito que nela se encontra o momento e a presença humana.»
As relações entre os elementos pictóricos esclarecem-se através da multiplicidade de siginificações e, assim, o acto pictural constitui-se como instauração o de nova linguagem, que afirma e nega ao sabor do humor. Os títulos dos seus quadros auxiliam a distanciação psíquica necessária a este momento instaurador.
Rui Mário Gonçalves