UMA SOLIDÃO DEMASIADO RUIDOSA de Bohumil Hrabal
Com António Simão Apoio cenográfico Isabel Boavida Luz Pedro Domingos Assistência geral João Meireles
Produção Artistas Unidos / Actores Produtores Associados
Este espectáculo estreou no Centro Cultural de Belém a 14 de Fevereiro de 1997
No teatro da Comuna de 27 a 29 de Março de 1997
Em Almada de 4 a 6 de Abril de 1997
No Fazer a Festa – Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude do Porto a 21 de Abril de 1997
No Festival de Almada a 12 de Julho de 1997
No Festival de Teatro de Montemor-o-Velho a 31 de Julho de 1997
No espaço Estrela 60 (Lisboa) de 7 a 31 de Agosto de 1997
No Festival de Teatro da Covilhã a 29 de Outubro de 1997
No Balleteatro (Porto) a 7 e 8 de Novembro de 1997
No Espaço Celeiros/Ex – Celeiros da EPAC a 20 de Fevereiro de 1998
Entre 1997 e 1999 este espectáculo também fez digressão por Coimbra, Viana do Castelo, Aveiro, Olhão, Vila Franca de Xira, Alverca e Glória do Ribatejo
Reposição no espaço A Capital/Teatro Paulo Claro de 3 a 26 de Fevereiro de 2000
Na Amadora a 3 de Março de 2000
Na Malaposta de 9 a 19 de Março de 2000
Digressão por Portalegre a 19 de Outubro, Faro a 27 de Outubro e Paio Pires a 2 de Dezembro de 2000
No Convento das Mónicas de 17 de Maio a 9 de Junho de 2007
No FESTLIP (Rio de Janeiro – Brasil) a 3, 10 e 12 de 2009
No Mindelact (Cabo Verde) – No Palco Principal do Auditório do Centro Cultural do Mindelo a 26 de Setembro de 2010 e no Pequeno Auditório do Centro Cultural Português em Santiago/ Cidade da Praia a 29 Setembro de 2010
O texto está publicado na Revista nº 1 dos Artistas Unidos
UMA SOLIDÃO DEMASIADO RUIDOSA: Este monólogo barroco transporta-nos ao ambiente amarelecido e cru da Checoslóvaquia de Kafka, afinal símbolo universal do absurdo existencial que povoa as nossas vidas. Uma história normal, se é que se pode chamar normal à simplicidade. Um homem, um funcionário que vive algures numa casa escura e velha cheia de livros. Um homem cuja função é prensar papel velho numa cave; todos os dias toneladas de livros. U homem solitário, que vive das memórias do passado, das frases livrescas e das canecas de cerveja. Uma espécie de vagabundo que lê todos os livros que passam nessa cave, um homem culto sem querer. Um espécie de “velho do rio” que pensa e filosofa sobre uma série de coisas, que bebe canecas e canecas de cerveja, não para se embebedar, mas para pensar melhor. Um contador de histórias. Um velho que sente estar a ser ultrapassado pelo tempo no qual já não tem lugar. Um poeta da realidade.
“Foi por acaso que vi esse livro, mas foi convicto que decidi partilhá-lo e por isso fazer um monólogo. Um monólogo sobre este trabalhador e a partir desse texto maravilhoso, pensamento vivo, vivificante e vivificador. Texto rico falando de pobreza, texto barroco falando de simplicidade. Uma escrita tão humana quanto lírica, uma festa de ideias e de sentidos. Foi de imediato que reconheci este contexto, esta Checoslováquia assolada pela guerra. Pelo início da industrialização e do consumo, com as suas caves e catacumbas, o ambiente de conspiração kafkiana. Das vidas desgraçadas e horríveis, povoadas de criaturas cheias de pobreza e sofrimento, mas também de beleza, de ingenuidade e de sonho. Realidades semelhantes em tantos outros locais, em ambientes diferentes, com ecos diferentes. Como é o caso de Portugal e dos seus trabalhadores nos cais, nas fábricas, que vivem em casas algures na Madragoa ou em Alfama, nas suas caves e cubículos e do fado tão infeliz e nostálgico, tão cheio de pensamento. Que se levantam às seis da manhã, bebem uma taça de vinho e em festa vão trabalhar o dia todo.”
António Simão
“Em Praga, há uma cave. Brilhante como uma gruta de tesouros. Sombria e suja como um esgoto. Nessa cave há milhares de livros, centenas de ratos, visões passageiras e palavras que tornam o mundo grande. E há um homem, Hanta. Que há 30 anos empurra afectuosamente os livros, os mais belos e mais banais, para a prensa que os tritura e transforma em cubos de papel. Mas Hanta é um “carniceiro terno”. Sabe salvaguardar as palavras guardando-as na sua memória, para que elas brilhem que nem sóis, e para que esses sóis o ajudem a ver como pode ser a vida de um homem. Por entre a poeira, o suor e o cheiro a cerveja que não pára de beber, Hanta fala-nos. Do mais fundo da sua solidão, ele fala com os seus livros e as suas lembranças, saúda os seus poetas e os seus amores. O obscuro Hanta recusa triturar o esplendor da vida em nome do bom senso, da ordem, da rentabilidade. O magnífico Hanta prefere morrer a aceitar a morte dos sonhos passados: e ele, bêbedo, iluminado, desaparecerá na pura alegria dos seus amores de antes, assassinados, reencontrados. Hrabal afirmou que veio ao mundo apenas para escrever UMA SOLIDÃO DEMASIADO RUIDOSA. Ele tem a convicção que escrever este texto era uma necessidade. E era.”
Evelyne Pieiller
Um texto surpreendente de um fabuloso autor checo ainda pouco conhecido em Portugal e que nos legou, entre outras coisas, esta obra-prima chamada “Uma Solidão Demasiado Ruidosa”. António Simão soube, duas décadas depois, pô-la em palco. Magistralmente.
Rui Ferreira e Sousa
Público
Nada mais bonito do que poder o espectador, em especial quando é crítico, elogiar o espectáculo que viu. Dizer: Eh! Companheiro, coisa linda que você deu. Porque isto de sair de casa e ir a um lugar onde alguém espera por nós para nos proporcionar, mesmo que sozinho ou por isso, um texto e um trabalho tão bons, merece uma palavra de gratidão, outra de aplauso, a terceira de incentivo.
Carlos Porto
Jornal de Letras
Um feliz caso de recriação dramática de um texto narrativo que nada fica a dever ao original, É, ainda, um excelente trabalho de interpretação, na coerência da construção e na eficácia comunicativa que a situação de monólogo estabelece com o público.
João Carneiro
Expresso
Quanto à paixão do actor António Simão por este texto, vale a pena ver a energia e a violência que coloca neste “one man show” tão movimentado e frenético quando pode sê-lo um solilóquio. Toda a crueza e toda a surreal-abjecção do texto passa pelo corpo do solista que é indispensável ver.
Manuel João Gomes
Público