VICTORIA STATION de Harold Pinter
Tradução Jorge Silva Melo Com Rogério Vieira e António Simão Cenografia José Manuel Reis Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Som André Pires Um trabalho de Rogério Vieira e António Simão assistidos por Jorge Silva Melo e Alda Moreira
Estreia Teatro Taborda, 11 de Setembro de 2003
O texto está publicado no volume TEATRO II de Harold Pinter (Ed. Relógio d´Água).
Um homem da central de táxis, um motorista. E o inesperado acontece no meio deste diálogo trivial.
Homem da Central Nunca ouviu falar de Victoria Station?
Motorista Eu não, nunca.
Homem da Central É uma estação famosa.
Motorista Então olhe, pergunto-me o que é que andei a fazer estes anos todos.
Homem da Central O que é que andou a fazer estes anos todos?
Motorista Se quer que lhe diga, não sei lá muito bem.
Harold Pinter, VICTORIA STATION
VICTORIA STATION estreou a 14 de Outubro de 1982 no National Theatre, integrada no espectáculo OTHER PLACES (que incluía ainda A KIND OF ALASKA e FAMILY VOICES). A encenação era de Peter Hall e a interpretação de Paul Rogers (Homem da Central) e Martin Jarvis (Motorista).
VICTORIA STATION não podia ter sido escrita por absolutamente mais ninguém; só Pinter podia trazer a este diálogo o interesse pela manipulação mútua, a banalidade e ao mesmo tempo a estranheza da linguagem, do lugar e das acções, a indefinível sensação de desconforto que nos deixa sem saber se não estaremos a ouvir dois espectros jogando o seu derradeiro ritual numa Londres vazia e abafada.
Benedict Nightingale, The Spectator, 22 de Outubro de 1982
Em VICTORIA STATION, um motorista de táxi parado junto a um “jardim sombrio” no Crystal Palace e o homem da central que, progressivamente enlouquecido, se debate através das ondas hertzianas com a incompreensão aturdida do outro e com a sua própria solidão atroz esboçam os contornos de uma dependência mútua tão desesperada e carregada de mal-entendidos que a promessa do homem da central para “ir aí ter” soa como uma ameaça de morte e o suplicante “Não me deixe” do taxista balbuciado para o rádio soa como o grito de uma criança indefesa. Um no seu escritório obscurecido, o outro no seu táxi obscurecido, falam dos ossos do ofício de forma cada vez menos convincente e ambos acabam por ceder à fantasia escapista. Irá o homem da central “lá ter” ou trará o motorista de volta para uma boa chávena de chá? Tem este um Passageiro A Bordo, uma rapariga adormecida por quem, como diz, se apaixonou, e ficará no Crystal Palace para sempre? Terá talvez assassinado a rapariga? Tê-la-á agredido? Passar-lhe-ão estas coisas pela cabeça sequer?
Alan Jenkins, Times Litterary Supplement, 29 de Outubro de 1982
VICTORIA STATION é Pinter vintage, a fazer lembrar O SERVIÇO e CÂMARA ARDENTE. É como se Pinter, depois da aventura estilística de TRAIÇÕES, estivesse a experimentar com dois estilos e abordagens diferentes, procurando uma nova síntese entre o grotesco surrealista por um lado e um realismo metafísico por outro.
Martin Esslin