Nasceu em Paris em 1963. Fundou a sua primeira companhia de teatro aos 19 anos e com ela representava em bailes nos arredores de Paris, em cafés, discotecas ou salas de festas. Hoje dirige uma companhia de teatro, La Lézarde, para a qual escreve e encena espectáculos. Também escreve para o cinema e realizou longas-metragens e clips. E Depois (Bal-Trap) estreou em 1990 no Théâtre du Guichet Montparnasse e foi a primeira peça sua a ser publicada pelas Éditions Théâtrales. É vice-presidente dos Escritores Associados ao Teatro (EAT), associação de escritores para teatro franceses. É autor de uma dezena de peças de teatro que começam a ser representadas em toda a Europa (traduções em alemão, inglês, holandês, polaco, catalão, castelhano e húngaro) e Estados Unidos. Encenou um espectáculo de Jane Birkin.
Teatro
Escreveu e encenou:
1988 – Une Rose Sous La Peau
1989 – La Nuit A L´Envers
1989 – Angele Roux
1989 – 22/34
1990 – Bal Trap (E depois…)
1991 – Une Petite Entaille
1991 – Une Envie De Tuer Au Bout De La Langue
1993 – La Quille
1994 – Quand Le Pere Du Pere De Mon Pere
1995 – Polaroid
1995 – Chronique Des Jours Entiers Des Nuits Entieres 1997 – J´Irai Au Paradis Car L´Enfer Est Ici
1999 – Les Vilains
1999 – Surfeurs
2001 – La Promise 2001 – Les Oreilles Sur Le Dos
2002 – La Nage Indienne
Para mim, a única verdadeira questão é a seguinte: podemos nós, no tempo presente, escrever? Podemos nós ter uma visão daquilo que está à nossa volta, uma visão política? Procurar uma forma de calão poético. Estar lá como testemunha. A pergunta é: o que é que ainda restará no ano 2050? Quem terá falado da realidade dos anos 90? Quem estará lá, como testemunha, no futuro? Quem terá dado conta dessa coisa terrível? A relação com a sexualidade que mudou numa geração apenas. A influência da televisão, das imagens que nos bombardeiam constantemente com electrões: informação e desinformação ao mesmo tempo. Já não temos tempo para pensar naquilo que se passa no mundo, na agitação extraordinária entre Este e Oeste ou entre o Norte e o Sul. As novas formas não virão dos dramaturgos mas da escrita.
Os encenadores apropriam-se dos materiais, deslocam-nos, cortam-nos, cada um à sua maneira. Mas quando nos dizem que o teatro contemporâneo é uma seca, frase que ouvimos com frequência, julgo que a responsabilidade talvez seja dos encenadores. No que me diz respeito, o facto das pessoas se apropriarem daquilo que escrevo obriga-me a adoptar uma escrita estilhaçada.
Escrever não é apenas escrever num caderno. Entre nós, no teatro, a página branca não existe, está ligada directamente ao pensamento. As histórias estão no meu interior, não há pesquisa intelectual sobre mitos, a fábula. Vemos alguém passar, observamos uma pose e, a partir dessa emoção, perguntamo-nos como iremos falar sobre aquilo, como demonstrar essa emoção através da escrita. É uma coisa terrível. Acabamos por nos encontrar numa bolha onde tudo pode ser transposto. Por baixo dessas pequenas frases que vêm caminhando (um ritmo, uma energia como uma luz) se não fizermos o esforço para as retirar do seu contexto, elas morrem, tornam-se cinzentas. É necessário encontrar um ritmo que seja tão forte como um tema de jazz. As palavras não têm apenas uma pauta consciente, também há a pauta inconsciente que vem do ritmo, da respiração. Quando sofremos, quando nos insultamos, quando fazemos uma declaração de amor, na escrita, sentimos que tudo isso se desfaz. É necessário reapropriarmo-nos de toda essa musicalidade.
O trabalho do escritor é (…) produzir uma língua viva, ancorada na realidade. Mesmo que não compreendamos as palavras, compreendemos a energia. No teatro, tenho a impressão que uma parte do público vem ver as minhas personagens com viriam ao jardim zoológico ver macacos. Dou a palavra a pessoas cuja língua nunca ouvimos.
Nunca coloquei a mim próprio a questão da língua. Exprimo-me naturalmente, senão seria monstruoso. (…) Fazemos as coisas se estamos felizes, se estamos com disposição. Não é qualquer coisa que se despeje. Nunca trabalhei a minha linguagem para fazer aliterações. Depois as pessoas analisarão a ligação entre o francês escrito e o francês falado. Somos sinceros para com aquilo que escrevemos ou então somos batoteiros. Mas neste último caso, acabamos por ser apanhados como um rato no meio de um campo. Nunca passará para além do palco.
Xavier Durringer
Nas Revistas Artistas Unidos:
E depois (Bal-trap) (Revista nº 15)
Nos Artistas Unidos:
2001 – E DEPOIS, encenação de Gilles Lefeuvre-Kiraly (A Capital Teatro Paulo Claro).