PROMETEU – RASCUNHOS À LUZ DO DIA de Jorge Silva Melo

Prometeu - Rascunhos à Luz do Dia

Estreia Festival Internacional de Teatro de Almada, 12 de Julho de 1996.
Teatro da Comuna, Fevereiro de 1997.

Os textos estão publicados em Prometeu – Rascunhos (Ed. &etc).

Neste texto não sabemos quem é Prometeu, o semi-deus. Otelo? Rosa Luxemburgo? Ou Estaline? Ou Eanes? Gramsci na cadeia? Boukharine condenando-se à morte? Bobby Sands? Ou… tu próprio e eu mesmo? Sabemos que roubou o fogo aos deuses para o dar os homens e eles não morrerem de frio, e cozinharem a comida. Mas há homens que ainda morrem de frio – e de fome tantos. Também esse fogo foi só para alguns – como as férias, os subsídios de férias, as casas, as escolas, os livros, os carros. O que neste texto nos perguntamos é se a história não podia ter sido feita de outra maneira: não podiam ter sido os homens, os próprios homens, nós mesmos, tu e eu quem roubava o fogo aos deuses. Em vez de agradecer a um simpático gigante que teve pena de nós e agora se lamenta, com a águia a comer-lhe o fígado. Durante uma semana, entre 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 eu pensei que esta história do fogo e dos deuses e dos homens podia finalmente ser pegada pela outra ponta da meada, pelos homens, simples homens. Não foi. Porquê?
[…]
Juro-vos que foi muito mais fácil escrever este texto e ensaiá-lo em 6 dias do que, por exemplo, conseguir uma confirmação dos Serviços da Câmara para a utilização do Teatro Taborda que, desde Dezembro de 95, tentamos obter para usar em Julho de 96 – e a resposta veio a 30 de Maio, quando já era demasiado tarde e eu próprio já escrevera a desistir. Foi então que apareceu o convite do Festival de Almada. Para virmos de casa às costas pensar convosco. Aqui estamos desde sábado passado, e tem sido bestial. Estas duas sessões de Rascunhos (chamemos-lhes: as “versões de Almada”) são assim únicas. Irrepetíveis. Feitas para aqui.
Jorge Silva Melo
12 Julho 1996

Um poema-manifesto insurreccional de uma coerência a toda a prova e de uma lucidez quase insuportável. Só Zeus pode prever os caminhos que esta proposta prometaica de Jorge Silva Melo vai abrir ao teatro, o choque e o impacto que ela vai provocar.
Manuel João Gomes
Público, 13 de Julho de 1996