A MORTE DE DANTON de Georg Büchner Tradução Maria Adélia e Jorge Silva Melo Com Miguel Borges, Pedro Gil, Sylvie Rocha, João Meireles, Maria João Pinho, Rita Brütt, Afonso Lagarto, Alexandra Viveiros, Américo Silva, António Simão, Elmano Sancho, Estêvão Antunes, Gustavo Vargas, Hugo Samora, Joana Barros, João Delgado, João de Brito, José Neves, Luís Moreira, Marco Trindade, Mafalda Jara, Mirró Pereira, Nuno Bernardo, Nuno Pardal, Pedro Luzindro, Pedro Mendes, Tiago Matias, Tiago Nogueira, Ricardo Neves-Neves, Rúben Gomes, Rui Rebelo, Vânia Rodrigues e estagiários da ESTC (Bernardo Nabais, Damião Vieira, Daniel Viana, Diogo Tormenta, Filipe Velez, Isac Graça, Ivo Silva, João Pedro Mamede, João Ventura, Pedro Sousa Loureiro, Rafael Gomes, Ricardo Teixeira) Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Direcção Musical Rui Rebelo Assistência Leonor Cabral, Joana Barros, Pedro Mendes e Alexandra Viveiros Ponto João Coelho Encenação Jorge Silva Melo Em Co-Produção com o Teatro Nacional D. Maria II /Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura/ Artistas Unidos
No Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) 2 e 3 de Março de 2012
No Teatro Nacional D. Maria II (Sala Garrett) de 15 de Março 22 de Abril de 2012
Danton Sabemos tão pouco um do outro. Somos elefantes de pele grossa, estendemos as mãos, mas é uma perca de tempo, roçamos só os nossos couros um contra o outro – estamos muito sós.
Georg Büchner, A Morte de Danton
Pretender fazer A Morte de Danton, o enigmático texto de Georg Büchner é desejo profundo de quem começou a dirigir espectáculos nos velhos anos 70 daquele outro século, sanguinário também. Porque é na Morte de Danton que se lançam todas as questões do teatro que depois nos viria a interessar, é nela que a herança de Shakespeare é ultrapassada e o seu sopro histórico absorvido. Peça desequilibrada, insólita, premonitória, desarrumada, desalinhada – em que às cenas de multidão se sucedem as insónias mais íntimas, em que a História é vista como um pesadelo nocturno, peça de um negro pessimismo, é a peça sangrenta de um rapaz fixando a morte. E a mim sempre me interessaram os escritos de juventude. Do jovem Brecht à jovem Sarah Kane, do jovem Harrower ao jovem Fosse ou ao José Maria Vieira Mendes – tenho-me encontrado sistematicamente entre aqueles que afinam ainda a voz, que ainda não encontraram o equilíbrio formal, que ainda sangram. E A Morte de Danton é esse texto: as convulsões da História vistas por um rapaz perplexo, aflito, inseguro, perante a morte.
Jorge Silva Melo
A peça segue o destino de George Danton, poderoso orador e líder das forças antimonárquicas pós-revolucionárias, que se volta contra o poder exercido pelos seus correligionários (nomeadamente Robespierre) e tenta parar as medidas que trazem tanto sofrimento ao povo. Robespierre manda prendê-lo e usa o Tribunal para condenar Danton e toda a oposição à morte, consolidar o seu poder e chacinar inúmeros milhares de homens, mulheres e crianças. Mas, “em vez de um drama, em vez de uma acção que se desenrola, se intensifica e enfraquece, A Morte de Danton segue os últimos sobressaltos e os últimos estertores que precedem a morte”, escreveu Karl Kutzov, mal leu o texto que Büchner, lhe enviou. O sofrimento e a morte ocupam um lugar preponderante no drama: a morte seria uma “doença que faz perder a memória” , ela é “a encantadora senhora Putrefacção” “o grande manto sob o qual todos os corações deixam de bater e todos os olhos se fecham”; uma realidade obcecante, que as pessoas desafiam e temem. Sofrer é um pensamento insuportável: “Não receio a morte, mas a dor, ela é o único pecado, e o sofrimento é o único vício”.
Jean-Louis Besson, Le thèâtre de Georg Büchner
Büchner, apaixonadamente humano, politicamente rebelde, manifestando-se com impaciência, queria claramente que a forma da sua peça se ajustasse às suas visões radicais das personagens, da política e da história. A Morte de Danton é a primeira peça a começar depois do seu clímax. O destino do protagonista já está mais que decidido antes de a peça começar. A peça poderia igualmente chamar-se Danton a Morrer. A peça ainda nem tem um minuto e já nós estamos completamente imersos nela. Ao longo da peça, cenas longas e curtas, activas e introspectivas quase se atropelam umas às outras. A ideia da fusão de cenas através de mudanças de luzes, algo muito familiar ao teatro de hoje – e, claro, ao cinema – era rudimentar num teatro que ainda não tinha, nem tinha sequer concebido, a iluminação eléctrica.
Stanley Kauffmann, Büchner: A Revelation
A MORTE DE DANTON de Georg Büchner Tradução Maria Adélia e Jorge Silva Melo Com Miguel Borges, Pedro Gil, Sylvie Rocha, João Meireles, Alexandra Viveiros, Américo Silva, António Simão, Diogo Cão, Elmano Sancho, Estêvão Antunes, Hugo Samora, Joana Barros, João Delgado, José Neves, João de Brito, Mafalda Jara, Manuel Coelho, Maria João Pinho, Nelson Boggio, Nuno Bernardo, Paula Mora, Pedro Luzindro, Pedro Mendes, Rita Brütt, Rui Rebelo, Tiago Matias, Tiago Nogueira, Ricardo Neves-Neves, Rúben Gomes, Susana Oliveira, Vânia Rodrigues Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Direcção Musical Rui Rebelo Assistência Leonor Cabral Encenação Jorge Silva Melo Em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II / Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura
No Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) 2 e 3 de Março de 2012
No Teatro Nacional D. Maria (Sala Garrett) de 15 de Março 22 de Abril de 2012
Danton Sabemos tão pouco um do outro. Somos elefantes de pele grossa, estendemos as mãos, mas é uma perca de tempo, roçamos só o nossos couros um contra o outro – estamos muito sós.
Georg Büchner, A Morte de Danton
Pretender fazer A Morte de Danton, o enigmático texto de Georg Büchner é desejo profundo de quem começou a dirigir espectáculos nos velhos anos 70 daquele outro século, sanguinário também. Porque é na Morte de Danton que se lançam todas as questões do teatro que depois nos viria a interessar, é nela que a herança de Shakespeare é ultrapassada e o seu sopro histórico absorvido. Peça desequilibrada, insólita, premonitória, desarrumada, desalinhada – em que às cenas de multidão se sucedem as insónias mais íntimas, em que a História é vista como um pesadelo nocturno, peça de um negro pessimismo, é a peça sangrenta de um rapaz fixando a morte. E a mim sempre me interessaram os escritos de juventude. Do jovem Brecht à jovem Sarah Kane, do jovem Harrower ao jovem Fosse ou ao José Maria Vieira Mendes – tenho-me encontrado sistematicamente entre aqueles que afinam ainda a voz, que ainda não encontraram o equilíbrio formal, que ainda sangram. E A Morte de Danton é esse texto: as convulsões da História vistas por um rapaz perplexo, aflito, inseguro, perante a morte.
Jorge Silva Melo
A peça segue o destino de George Danton, poderoso orador e líder das forças antimonárquicas pós-revolucionárias, que se volta contra o poder exercido pelos seus correligionários (nomeadamente Robespierre) e tenta parar as medidas que trazem tanto sofrimento ao povo. Robespierre manda prendê-lo e usa o Tribunal para condenar Danton e toda a oposição à morte, consolidar o seu poder e chacinar inúmeros milhares de homens, mulheres e crianças. Mas, “em vez de um drama, em vez de uma acção que se desenrola, se intensifica e enfraquece, A Morte de Danton segue os últimos sobressaltos e os últimos estertores que precedem a morte”, escreveu Karl Kutzov, mal leu o texto que Büchner, lhe enviou. O sofrimento e a morte ocupam um lugar preponderante no drama: a morte seria uma “doença que faz perder a memória” , ela é “a encantadora senhora Putrefacção” “o grande manto sob o qual todos os corações deixam de bater e todos os olhos se fecham”; uma realidade obcecante, que as pessoas desafiam e temem. Sofrer é um pensamento insuportável: “Não receio a morte, mas a dor, ela é o único pecado, e o sofrimento é o único vício”.
Jean-Louis Besson, Le thèâtre de Georg Büchner
Büchner, apaixonadamente humano, politicamente rebelde, manifestando-se com impaciência, queria claramente que a forma da sua peça se ajustasse às suas visões radicais das personagens, da política e da história. A Morte de Danton é a primeira peça a começar depois do seu clímax. O destino do protagonista já está mais que decidido antes de a peça começar. A peça poderia igualmente chamar-se Danton a Morrer. A peça ainda nem tem um minuto e já nós estamos completamente imersos nela. Ao longo da peça, cenas longas e curtas, activas e introspectivas quase se atropelam umas às outras. A ideia da fusão de cenas através de mudanças de luzes, algo muito familiar ao teatro de hoje – e, claro, ao cinema – era rudimentar num teatro que ainda não tinha, nem tinha sequer concebido, a iluminação eléctrica.
Stanley Kauffmann, Büchner: A Revelation